Resumo

O aumento da produção científica, natural nas academias estrangeiras, tem influenciado diretamente no processo de desenvolvimento de pesquisas no Brasil, impondo aos pesquisadores uma busca permanente por eventos que concedam o devido espaço para a apreensão e o desvelamento de trabalhos recém-produzidos. As pesquisas demandam recursos para se realizarem e os recursos estão cada vez mais disputados, especialmente quando se envolve agências de fomento. Por isso, justificar o estudo de maneira clara, argumentativa e persuasiva é um conhecimento que deve ser adquirido pelos pesquisadores.

O objetivo deste artigo é identificar os tipos de argumentos empregados para justificar as pesquisas científicas no campo da Administração. Tal cenário destaca a necessidade de se aprimorar a relevância, que é retratada na seção justificativa dos trabalhos científicos, aumentando a aceitação dos mesmos na ciência nacional e internacional. Sob este prisma, levanta-se o seguinte problema: Que tipos de argumentos são empregados pelos autores para justificar as pesquisas científicas, em especial, na área de Administração, como meio para tentar assegurar que o estudo seja aceito?

No campo da Administração, a preocupação com o rigor – fiel da balança na análise pelos periódicos – e a relevância da pesquisa é fator de discussão recorrente na literatura e nos encontros da comunidade científica (BERTERO et al., 2013), como o EnANPAD. Além disso, a relevância (contribuição de valor) do estudo para a ciência é o principal fator na decisão de aceitação ou rejeição de artigos pelos editores de periódicos. Isto ocorre porque falhas técnicas podem ser corrigidas, mas um artigo sem contribuição não apresentará grande avanço nas rodadas subsequentes de revisão do trabalho.

Para obter a resposta ao problema avençado, o presente estudo consignou uma abordagem qualitativa, de natureza exploratória, recorrendo à técnica da Análise de Conteúdo como categoria, visando à análise dos 33 artigos selecionados para a premiação no congresso EnANPAD 2016, em suas 13 divisões. A Análise de Conteúdo foi estruturada tendo como base o framework sugerido por Lukosevicius, Soares e Chaves (2016). A escolha pelo EnANPAD ocorreu porque esse congresso é considerado o segundo maior evento científico do mundo na área de Administração (ANPAD, 2017).

Com o apoio do software Atlas.ti, a codificação e a categorização dos códigos foi realizada. Foram identificadas seis categorias de argumentos, em ordem decrescente de ocorrências: Argumentos de autoridade; Escassez; Contribuição teórica; Necessidade; Contribuição prática e Lacuna. O tipo de argumento com o maior número de ocorrências foi “argumentos de autoridade”. Trata-se de uma categoria em que se usa os argumentos baseados na literatura científica passada ou recente. Vale destacar que se encontraram seções Resumo (27%) e Introdução (12%) sem nenhum argumento de justificativa da pesquisa.

A conclusão é de que os argumentos de autoridade prevaleceram no contexto do Resumo ou da Justificativa nos trabalhos concorrentes às premiações das 13 divisões temáticas do EnANPAD 2016, reforçando o caráter robusto do discurso ou da escrita, sendo uma categoria em que se usa os argumentos baseados na literatura científica passada ou recente. Esse achado confere à força argumentativa quando atesta que a justificativa da pesquisa deve ser calcada em evidências do tipo exemplos. Sugere-se replicar a pesquisa em outros corpus de análise diferentes dos artigos do EnANPAD 2016.

BERTERO, C.; ALCADIPANI, R.; CABRAL S.; FARIA A.; ROSSONI, L. Os desafios da produção de conhecimento em Administração no Brasil. Cadernos EBAPE, v. 11, n. 1, p. 181–196, 2013. FALASTER, C. D.; FERREIRA, M. A. S. P.; CANELA, R. Motivos de rejeição dos artigos nos periódicos de Administração. Revista Organizações & Sociedade, Salvador, v. 23, n. 77, p. 285-306, 2016. MASCARENHAS, A. O.; ZAMBALDI, F.; MORAES, E. A. Rigor, relevância e desafios da academia em Administração: tensões entre pesquisa e formação profissional. RAE – Revista de Administração de Empresas, v. 51, n. 3, p. 265-279, 2011.