Resumo

Título do Artigo

RAÇA, LUGARES E BARREIRAS: TRAJETÓRIAS DE VIDA DE CHEFES NEGROS EM UMA ORGANIZAÇÃO PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS
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Palavras Chave

Raça
Lugares
Barreiras

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Genero, Diversidade e Inclusão nas Organizações

Autores

Nome
1 - Matheus Arcelo Fernandes Silva
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - Faculdade de Ciências Econômicas
2 - Felipe Gouvêa Pena
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - Faculdade de Ciências Econômicas
3 - Mariana Luísa da Costa Lage
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA (UFJF) - Departamento de administração
4 - Luiz Alex Silva Saraiva
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - Faculdade de Ciências Econômicas

Reumo

Os debates acerca de políticas que busquem reduzir as desigualdades raciais ainda são tímidos no Brasil, e apresentam forte resistência dos setores mais conservadores da sociedade. Apoiados, sobretudo, na ideia de uma suposta “democracia racial”, em discursos meritocráticos simplórios que desconsideram trajetórias históricas e contextos de vida, negam-se desigualdades e situações de injustiça evidentes.
Diante dessa problematização inicial, a questão central que norteia o presente artigo é como a questão racial se apresentou durante a trajetória de vida de negros que alcançaram cargos de chefia em uma organização pública do estado de Minas Gerais. Nesse sentido, objetiva-se investigar a trajetória de vida dos entrevistados, buscando apreender aspectos que se relacionem com a questão racial.
A ainda incipiente movimentação no âmbito dos estudos organizacionais em torno da questão racial pode advir de uma possível naturalização da situação, e também, pelo fato de que muito dificilmente são observadas cenas explícitas de discriminação racial nas organizações, contudo, este fato não implica a inexistência do racismo. Nesse sentido, a suposta predileção dos negros por uma determinada ocupação provavelmente advém de questões culturais e de uma internalização do que seria o papel dos negros na sociedade.
O presente trabalho buscou considerar a história de vida dos três únicos negros que ocupam cargos de chefia em uma organização pública do governo do estado de Minas Gerais. Utilizou-se uma metodologia qualitativa, a partir da reprodução das trajetórias de vida dos sujeitos, uma vez que as discriminações raciais são sentidas de formas distintas por cada pessoa, e somente quem sofre a discriminação pode, de fato, retratar o assunto. Para a análise dos dados, optou-se realizar uma análise de conteúdo, viabilizando a estruturação de categorias de análise comuns nas falas dos entrevistados.
Os principais resultados sugerem convergência nas origens simples dos entrevistados, e no pioneirismo do acesso ao ensino superior em suas famílias, a transposição de uma importante barreira. Todavia, mais escolaridade não significou facilidade para superar “o lugar do negro” na sociedade. Ocupar uma posição historicamente ocupada por brancos, que ainda o fazem majoritariamente hoje, é outro ponto de convergência das trajetórias de vida dos entrevistados.
As principais contribuições do estudo destacam com os entrevistados integram a estatística dos apenas 32% de negros mineiros em cargos de diretores e gerentes. Em contraposição, ocupações que remetem a trabalhos manuais são majoritariamente ocupados por negros. O reconhecimento desta situação representa o racismo no Brasil, muitas vezes velado, silencioso, mas capaz de manter estruturas. É preciso denunciar a miscigenação e sua máscara de igualdade racial como forma de desarticulação do movimento negro.
CONCEIÇÃO, E. B. A negação da raça nos estudos organizacionais. Anais do Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, São Paulo, SP, Brasil, 33. 2009 GUIMARAES, A. S. A. Depois da democracia racial. Tempo Social, 18(2), 269-2872006. MUNANGA, K. As facetas de um racismo silenciado. In. SCHWARCZ, L. M.; QUEIROZ, R. (Org.). Raça e diversidade. São Paulo: Edusp. 1996. ROSA, A. R. Relações Raciais e Estudos Organizacionais no Brasil. Revista de Administração Contemporânea, v. 18, n. 3, art. 1, pp. 240-260, Maio/Jun. 2014.