Resumo

Considera-se que a construção de sentidos parte das relações sociais estabelecidas, das vivências e do contexto histórico e social que envolve tal construção. Nesta perspectiva, estudou-se o setor de hospedagem, por meio da comunidade de fala (fanpage) “Escravos da Hotelaria” que congrega profissionais deste setor.

Este estudo objetiva compreender os sentidos construídos sobre a relação entre os trabalhadores dos serviços de hospitalidade e seu sindicato, especificamente os dos serviços de hospedagem, buscando responder quais os sentidos construídos por estes trabalhadores sobre sua relação com o sindicato que os representa.

Ressalta-se que o movimento sindical dos trabalhadores vem encontrando dificuldades na construção de novas formas de organização para enfrentar as metamorfoses no mundo do trabalho como lembra Antunes (2003), gerando a necessidade do sindicalismo se adaptar aos novos processos adotados pelo modelo de produção ora vigente, tais como a representação de trabalhadores terceirizados e subcontratados, e de buscar reagir às políticas econômicas liberais e à redução do poder de pressão devido ao desemprego, notadamente na atualidade do país.

Propõe-se a realização de pesquisa qualitativa pautada na proposta marxista da linguagem baseada em Bakhtin (2006), tendo como técnica de constituição do corpus de pesquisa a netnografia. A análise deste corpus baseia-se nos pressupostos bakhtinianos para Análise Crítica do Discurso, no sentido de contribuir para a reflexão sobre o sujeito que atua profissionalmente nesta área no que se refere ao entendimento da citada relação, por meio do estudo da comunidade de fala, a funpage do Facebook “Escravos da Hotelaria – Aqui o escravo tem voz”.

Os resultados indicam que misturam-se nas enunciações o sentido da dúvida e o descrédito nesta instituição de representação destes trabalhadores, ao considerar que “Nossa classe é uma piada” ou quando ‘cantam’ “Sindicato eficiente? Nunca vi e nunca ouvi falar....”. Acrescenta-se ainda a falta de representatividade do trabalhador e a percepção de que seu sindicato representa na verdade o empregador, como enuncia uma dos membros ao dizer que “Aki o presidente do sindicato e dono de hotel ! Conflito de interesses?!”.

Assim, considerando a relação com o sindicato, os trabalhadores constroem sentidos pautados na sensação de falta de representatividade do trabalhador e a percepção de que seu sindicato representa, na verdade, o empregador, estes aspectos reverberam no tom de descrédito na mobilização tanto dos trabalhadores do setor como na ação deste ator de representação devido à percepção da fragmentação sindical.

ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamoforses e a centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, Editora da Universidade Estadual de Campinas, 2003. BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2006.