Mecanismos de financiamento inovadores
Bioeconomia
Povos indígenas
Área
Empreendedorismo
Tema
Empreendedorismo Social
Autores
Nome
1 - Natanael Silva Correia UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA) - Campus Belém
2 - José Augusto Lacerda Fernandes UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA) - Faculdade de Administração (FAAD)
Reumo
Diante dos desafios globais e das urgências locais, o empreendedorismo social constitui um aliado importante para o desenvolvimento sustentável dos países amazônicos, que já imprimem uma lógica híbrida em suas operações. Em especial, quando se trata dos negócios engajados com as cadeias de valor da bioeconomia da Amazônia. No entanto, lidam com vários desafios logísticos e ainda exigem investimentos intensivos em inovação, empreendimentos da bioeconomia demandam mecanismos inovadores de financiamento, atentos às suas especificidades e às características do próprio contexto amazônico.
Há poucos estudos centrados na interface entre a inclusão de povos indígenas na implementação da bioeconomia e os mecanismos de financiamento. Essa lacuna precisa ser abordada de modo pragmático, tendo em vista que, mesmo sendo vitais para a bioeconomia, os indígenas têm tido uma posição pouco privilegiada na captação dos recursos financeiros injetados nesse campo. A fim de alargar o conhecimento existente sobre tal problemática, esta pesquisa buscou compreender a construção e a gestão de um mecanismo de financiamento voltado exclusivamente para os povos indígenas da Amazônia brasileira.
A bioeconomia no contexto da Amazônia brasileira é tida como uma oportunidade de redirecionar práticas econômicas históricas degradantes (Sicsu et al. 2020), imprimindo na prática diferentes princípios basilares do empreendedorismo social. Contudo um dos desafios é a falta de recursos financeiros destinada aos empreendimentos (Bröring e Vanacker, 2022). Nesse cenário, estão surgindo mecanismos de financiamento inovadores que aplicam a lógica do capital paciente, consideram as peculiaridades de empreender na Amazônia e o protagonismo dos seus povos (Fernandes e Comini, 2024).
Trata-se de um estudo de caso único de caráter exploratório-descritivo, acerca do Fundo Podáali: o primeiro Fundo Indígena da Amazônia Brasileira e gerido por indígenas. O estudo utilizou de um corte temporal do tipo longitudinal, reconstruindo a trajetória do Fundo. No que concerne à coleta de dados, o estudo foi estruturado em torno obtenção de dados secundários e a realização de entrevista. Por meio da triangulação de diferentes fontes e tipos de dados, conseguiu-se gerar um painel rico em informações, às quais foram analisadas a partir da análise de conteúdo categorial temática.
A partir de uma análise das três fases principais, referentes à concepção, tração e crescimento do Fundo foi identificado que há um avanço do Podáali ao longo da sua trajetória, em prol não somente da bioeconomia e do empreendedorismo social, mas das causas dos povos indígenas de modo mais amplo. Ao decorrer das fases do Fundo observa-se um aumento do seu fortalecimento e o ganho de robustez nas diferentes categorias analisadas, o que cumulativamente tem proporcionado uma atuação mais madura e uma operacionalização também mais complexa.
Por meio do estudo do Fundo Podáali, demonstramos que é possível mobilizar recursos substanciais e fomentar iniciativas que promovam a bioeconomia na região. Os resultados abordados apontam que a estruturação de mecanismos como o Podáali, com alta preocupação com o fator desburocratização, é uma estratégia eficaz para superar as barreiras de acesso a financiamento enfrentadas pelas comunidades indígenas, pois mecanismos desse tipo contribuem para o fortalecimento dos povos indígenas e oferecem alternativas viáveis à economia do desmatamento.
BRÖRING, Stefanie; VANACKER, Ana. Designing Business Models for the Bioeconomy: What are the major challenges?. EFB Bioeconomy Journal, v. 2, p. 100032, 2022.
FERNANDES, José Augusto Lacerda; COMINI, Graziella Maria. Caminhos para alavancar os investimentos na bioeconomia da Amazônia. In: FINANÇAS INOVADORAS. 2. ed. São Paulo: Stanford Social Innovation Review Brasil, 2024. p. 24-33.
SICSU, Benjamin et al. Reforma Tributária, Zona Franca de Manaus e sustentabilidade: é hora de evolução. Manaus: FAS, 2020.