Resumo

No que se refere aos produtos alimentícios, uma das fontes de informação essenciais para o consumidor é o rótulo, por ser o primeiro elo entre a indústria, o comércio e aquele que consome. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) sugere aos consumidores a leitura da lista de ingredientes e a rotulagem nutricional, informações básicas de cunho obrigatório que devem constar no rótulo dos alimentos (Brasil, 2013).

As limitações do consumidor para executar esse processo, os prejuízos para a saúde do consumidor oriundos das más decisões alimentares e as disputas existentes entre diferentes atores em um mercado para valer seus interesses (Scrinis, 2021), esse trabalho possui como objetivo analisar os conflitos associados aos rótulos no mercado de alimentos ultraprocessados, um acontecimento que costuma ficar oculto dos consumidores, apesar deles sofrerem as consequências das dinâmicas envolvidas nesses conflitos que moldam o mercado (Leme, 2015).

Os mercados são eficazes quando permitem a execução de cálculos complexos que resultam em soluções práticas para problemas que não poderiam ser resolvidos de outra forma (Nøjgaard & Bajde, 2021). Para os EMC, calcular não significa necessariamente realizar operações matemáticas, mas estabelecer distinções entre coisas e os estados de mundo, além de imaginar e conjecturar cursos de ação associados a coisas ou a esses estados de mundo e suas consequências (Callon & Muniesa, 2003).

Este trabalho se inspira na metodologia da Análise Situacional (AS), proposta por Clarke, Friese e Washburn (2018). Em relação aos métodos de coleta de dados, foram utilizados a análise documental e a entrevista. O corpus de pesquisa foi formado por duas pesquisadoras doutoras da área de epidemiologia em nutrição, uma representante de uma associação sem fins lucrativos que atua no debate da alimentação ultraprocessada, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) e documentos diversos. O processo de análise dos dados ocorreu por meio de Análise do Conteúdo do tipo expressão.

A baixa capacidade de cálculo por parte dos consumidores é também formada por conflitos que ocorrem de maneiras diferentes, criando situações que são somadas e permitem observar parcialmente a situação. A situação vivenciada pelos consumidores no mercado alimentar de ultraprocessados, particularmente a da distribuição desnivelada das informações, compromete a sua capacidade de realizar cálculos de valor que permitam conceber uma avaliação satisfatória dos produtos que pretende comprar, como aponta Afzal, Roland e Nasser (2009).

O rótulo é um dispositivo capaz de performar o mercado à medida que guia o cálculo de valor operado pelo consumidor, tornando-o muitas vezes completamente dependente dele. Como prática, há uma transferência da capacidade de cálculo dos atores indústria e varejo que enquadra o cálculo de valor do consumidor nas limitações, obrigações ou dispensa de informações que operam nos rótulos.

Adkins, N. R., & Ozanne, J. L. (2005). Critical Consumer Education: Empowering the LowLiterate Consumer. Journal of Macromarketing, 25(2), 153-162. Afzal, W., Roland, D., & Nasser, M. (2009). Information asymmetry and product valuation: an exploratory study. Journal of Information Science, 35(2), 192-203. Alvarenga, M., Figueiredo, M., Timerman, F., & Antonaccio, C. (2018). Nutrição Comportamental. São Paulo: Manole.