Resumo

O empreendedorismo tem despertado o interesse de muitos estudiosos ao longo dos anos devido ao seu papel como impulsionador do sistema econômico. Iniciar e operar um novo negócio envolve riscos e esforços consideráveis para superar a inércia contra a criação de algo novo. Drucker (1970) enfatizou a importância dos empreendedores no desenvolvimento econômico através da criação de novos produtos, serviços e processos. A capacidade de sucesso dos empreendedores pode ser influenciada por barreiras que podem limitar seu impacto no âmbito social (Arruda; Burchart, & Dutra, 2016).

O fomento ao empreendedorismo é frequentemente apontado como uma solução para problemas sociais e econômicos, especialmente no contexto brasileiro. Contudo, é necessário analisar se tal fomento é realmente a solução para resolver nossos problemas sociais de maneira abrangente. Apesar do potencial do empreendedorismo brasileiro, a realidade ainda não reflete uma mudança significativa. Dessa forma, o objetivo do presente é analisar as possíveis relações de causa e efeito entre classe social, valores pessoais e empreendedorismo por meio de diferentes perspectivas teóricas comportamentais.

O estudo é composto pela teoria das classes sócias onde a investigação sobre as classes sociais permite analisar as possíveis influências estruturais e sistêmicas dessas classes nos valores dos empreendedores. Além do empreendedorismo onde os empreendedores frequentemente tomam decisões em ambientes extremamente inseguros, com altos riscos, intensas pressões de tempo e prováveis desgastes emocionais Hisrich (2017). Por fim, os valores pessoais nos permite relacionar questões de classes sociais, empreendedorismo e psicologia individual, observando o que as pessoas valorizam.

O estudo caracteriza-se por ser quantitativo, exploratório e descritivo. Utilizou-se da ferramenta de medição de valores C-VAT (Nelson, 2014). Foram coletados um total de 122 formulários divididos em dois grupos, sendo que o primeiro é formado por 70 empreendedores proprietários de negócios localizados em comunidades pobres e favelas na região metropolitana de Belo Horizonte, MG. Para gerar o contraste social proposto nesse estudo, obtivemos um total de 52 formulários respondidos por empreendedores que possuem pequenas e médias empresas localizadas em áreas nobres da cidade de Belo Horizonte.

A orientação à flexibilidade parece desempenhar um papel relevante na capacidade de lidar com desafios, incertezas e mudanças no contexto empreendedor. Nossos resultados indicam que os empreendedores da elite tendem a ser mais orientados à flexibilidade do que os empreendedores da base, o que pode ser influenciado por fatores como relações de poder, religião e estruturas sociais. A média dos empreendedores da elite valorizam mais a posição de liderança em comparação aos empreendedores da base e à população.

Com base nas investigações realizadas sobre as correlações entre os resultados da nossa pesquisa e a literatura adotada no referencial teórico, emerge uma sugestão de relação de causa e efeito que pode estar influenciando a formação dos empreendedores, a maneira como eles conduzem seus negócios, os resultados obtidos e, consequentemente, sua posição na estrutura social. Essa possível relação aponta para uma interconexão entre fatores socioeconômicos, valores pessoais e trajetórias empreendedoras, que moldam a experiência empreendedora e suas implicações no contexto social.

Arruda, C., Burchart, A., & Dutra, M. (2016). Estudos Teóricos sobre Educação Empreendedora, Relatório de Pesquisa Bibliográfica sobre Empreendedorismo e Educação Empreendedora. Drucker, P. F. (1970). Innovation and entrepreneurship: Practice and principles. Harper & Row. Hisrich, R. D., Peters, M.P. & Shepherd, D, A. (2017). Empreendedorismo. McGraw Hill Education. Nelson, R. E. (2014). Leadership, personal values, and cultural context in Brazil, China, and the USA. BAR-Brazilian Administration Review, 11, 47-63.