Resumo

O mundo do trabalho não é mais o mesmo, visto que no atual espírito do capitalismo, as condições de vida e trabalho foram alteradas. Dessa forma, novos modelos de trabalho surgiram, ou seja, carreiras longas foram substituídas pelo trabalho flexível (Gemelli et al., 2020). No Brasil, a Reforma Trabalhista trouxe a pejotização, fenômeno onde o empregado é contratado como PJ, mascarando a relação trabalhista e objetivando se livrar dos encargos (Silva; Ravnjak, 2020). A pejotização é um tema atual e tem sido analisada em diferentes contextos (Gemelli et al., 2020)

Diante da pejotização, modelo de trabalho que supostamente leva a precarização, buscou-se responder à questão de pesquisa: quais os impactos da pejotização na qualidade de vida do trabalhador? O objetivo geral foi compreender os impactos da pejotização na qualidade de vida de motoristas no setor logístico. A escolha do público se deu pela facilidade de acesso ao campo e por ser comum a pejotização nesse ramo. Os objetivos específicos incluíram, caracterizar a pejotização no setor logístico e identificar a percepção dos motoristas do setor sobre os impactos da pejotização em sua QVT.

A fundamentação teórica da pesquisa baseia-se em duas temáticas centrais. Na primeira destaca-se a pejotização como objeto principal, abordando também tópicos relacionados a essa, como a reforma trabalhista e a precarização do trabalho. Na segunda apresenta-se a qualidade de vida no trabalho como foco do estudo.

A pesquisa adota a abordagem qualitativa, pois auxilia na compreensão do fenômeno social com o menor distanciamento possível. Quanto aos fins, é exploratório-descritiva, quanto aos meios, se caracteriza como pesquisa de campo (Vergara, 1998). A entrevista foi adotada como técnica de coleta de dados pela relevância na compreensão dos atos sociais. Foram entrevistados oito motoristas do setor logístico que têm em comum a modalidade de trabalho PJ. A análise dos dados coletados se deu através da análise temática de conteúdo.

Os temas gerados da análise dos dados foram: trabalho como CLT, trabalho como PJ e qualidade de vida. Quanto ao trabalho CLT os entrevistados relataram horários rígidos, pressão do chefe, ganhos menores e benefícios como fator positivo. O trabalho como PJ é relacionado a liberdade de ser o próprio patrão, ganhos maiores, flexibilidade de horários e responsabilidade dobrada. A qualidade de vida é relacionada ao tempo com a família, lazer, dinheiro e saúde. Para alguns o trabalho PJ oferece qualidade de vida pelo tempo flexível, para outros, é ruim pela carga horária extensa para cobrir custos.

Portanto, quanto a questão de pesquisa, foi considerado que a pejotização tem como impactos na qualidade de vida dos trabalhadores do setor logístico a exposição ao estresse e adoecimento mental e físico, por conta da ausência dos direitos trabalhistas e da intensa jornada de trabalho; e a frustração, devido a falsa ilusão de que o trabalho autônomo possibilita uma vida isenta de dificuldades. Contudo, é preciso reconhecer, pelos relatos de alguns motoristas, impactos positivos, como tempo melhor para estar com a família e ganhos financeiros que possibilitem conforto e bem-estar.

GEMELLI, Catia; CLOSS, Lisiane; FRAGA, Aline. Multiformidade e pejotização: (re)configurações do trabalho docente no ensino superior privado sob o capitalismo flexível. REAd, Porto Alegre, RS, v. 26, n. 2, p. 409-438, mai./ago. 2020. SILVA, Maria Fernanda; RAVNJAK, Leandro. Pejotização e precarização da relação de emprego. Revista Serviço Social em Perspectiva, v. 4, n. Especial, p. 756-767, 2020. VERGARA, Sylvia. Projetos e relatórios de pesquisa em Administração. São Paulo: Atlas, 1998.