Ideologia gerencialista.
Análise do discurso crítica.
Adoecimento Mental.
Área
Gestão de Pessoas
Tema
Bem-Estar e Mal-Estar no Trabalho
Autores
Nome
1 - Cledinaldo Aparecido Dias UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS (UNIMONTES) - Departamento de Ciências da Administração
2 - Matheus Vitor Pereira de Abreu UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS (UNIMONTES) - Montes Claros
3 - Enzo Marques Miranda UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS (UNIMONTES) - Montes Claros
4 - Mel Karoliny Medeiros Oliveira UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS (UNIMONTES) - Montes Claros
5 - Gabriela Almeida Ferreira de Jesus UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS (UNIMONTES) - Montes Claros
Reumo
O ambiente de trabalho contemporâneo tem sido caracterizado por uma busca incessante por produtividade e eficiência, uma tendência promovida pela ideologia gerencialista somado às novas abordagens gerenciais voltadas para a super eficiência humana e a exploração do domínio psicológico. A docilidade e abuso dos corpos dá lugar ao domínio das mentes, no qual, aborda maior produtividade, agilidade, perfeição, criatividade e atualização constante que podem afetar negativamente a saúde mental dos trabalhadores.
As mudanças ocorridas no mundo do trabalho têm levado a um aumento significativo de casos de adoecimento físico e mental de trabalhadores. Nesse sentido, esse estudo questiona como as exigências organizacionais, inerentes à ideologia gerencialista, são discursivamente negligenciadas pelas organizações e contribui para o adoecimento mental dos trabalhadores? O objetivo geral volta-se para investigar como as exigências organizacionais são discursivamente negligenciadas pelas organizações contemporâneas e acabam por contribuir para o adoecimento mental dos trabalhadores.
Os fundamentos teóricos que sustentam essa discussão envolvem dois eixos. Em um primeiro momento foram articulados aspectos relacionados à trajetória do desenvolvimento do trabalho e ideologia gerencialista nas organizações (Gaulejac, 2007; Pagès et al., 2008; Siqueira, 2009; Tonon e Grisci, 2015). No segundo eixo de discussão são apresentados aspectos das exigências pela produtividade e desempenho, ponderando seus impactos no bem-estar psicológico e na saúde mental dos trabalhadores (Dias et al., 2019; Faria, 2009; Freitas, 2006; Gurgel, 2015; Tragtenberg, 2006; Araújo, 2021).
A pesquisa assume natureza qualitativa, com dados coletados por meio de onze entrevistas semiestruturadas realizadas à distância com gestores de recursos humanos de diferentes organizações. As entrevistas foram gravadas utilizando o software OBS Studio, preservando tanto o áudio quanto o vídeo para uma análise mais completa. O corpus textual gerou três eixos temáticos que foram analisados à luz da metodologia da Análise do Discurso Crítica de Fairclough. As categorias de análise incluíram: modalidade, coesão, metáfora, transitividade, avaliação, interdiscursividade e intertextualidade.
Ao analisar os excertos por meio da Análise do Discurso foram identificamos três eixos temáticos inerentes à ideologia gerencialista em suas diversas facetas. Os resultados relatam as características do trabalho contemporâneo e a performance do gerencialismo, abordando aspectos como: a espiritualidade organizacional, a exploração da potencialidade humana, a transferência das responsabilidades organizacionais para o trabalhador, a romantização e a negação das pressões organizacionais, bem como a negligência ao adoecimento mental e a naturalização das exigências organizacionais.
A análise dos discursos apresentados revela uma realidade complexa e multifacetada nas relações de trabalho contemporâneas. Nesse cenário dinâmico, os desafios enfrentados pelos colaboradores refletem não apenas as demandas do ambiente profissional, mas também as estruturas organizacionais e sociais que moldam suas experiências. Os três eixos analisados destacam problemáticas cruciais que exigem atenção imediata e ação transformadora.
ALVES, G. Trabalho e subjetividade: o espírito do Toyotismo na era do capitalismo manipulatório. São Paulo: Boitempo, 2011.
BORGES, Lívia de Oliveira. As concepções do trabalho: um estudo de análise de conteúdo de dois periódicos de circulação nacional. Revista de Administração Contemporânea, v. 3, p. 81-107, 1999.
CODO, Wanderley. Saúde mental e trabalho: uma urgência prática. Psicologia: ciência e profissão, v. 8, p. 20-24, 1988.
GAULEJAC, V. Gestão como doença social: ideologia, poder gerencialista e fragmentação social. Aparecida, SP: Ideias & Letras, 2007.