Resumo

As mulheres desempenham um papel crucial nas forças armadas, levando à adoção de políticas para igualar seus direitos aos dos homens. O Exército Brasileiro tem visto um aumento de mulheres por meio do serviço militar temporário voluntário, que permite a incorporação de civis por até 8 anos antes da reserva não remunerada. Essa modalidade é uma importante porta de entrada para mulheres na carreira civil. A transição para o serviço militar é desafiadora, exigindo adaptação à hierarquia rígida e disciplina, além de um compromisso contínuo e disponibilidade constante, sem compensação financeira.

A construção da carreira é um processo contínuo e sujeito a mudanças frequentes, entender como os indivíduos enfrentam essas transições é fundamental. A literatura destaca a importância de explorar os desafios da transição de carreira militar, especialmente para mulheres. Este estudo se justifica pela falta de pesquisas, especialmente no Brasil, sobre a transição de carreira, portanto, o objetivo deste trabalho é compreender a transição de carreira das mulheres que migraram da esfera civil para a militar através do serviço militar temporário voluntário no EB.

A transição de carreira é um conceito amplo que reflete a mudança e adaptação profissional ao longo do tempo, influenciada por decisões pessoais, valores e o contexto social (Collin, 2007). Esse processo, seja planejado ou não, demanda autoconhecimento e entendimento do mercado (Rizzatti et al., 2018), envolvendo fatores contextuais e apoio. Em uma perspectiva organizacional, é crucial reconhecer as necessidades de desenvolvimento contínuo dos colaboradores (Steindórsdóttir et al., 2023). As transições podem impactar a empregabilidade e a satisfação profissional (Akkermans et al., 2024).

Este estudo utilizou uma abordagem qualitativa descritiva com entrevistas semiestruturadas para coletar dados de 10 mulheres que fizeram a transição de carreiras civis para o serviço militar como Oficiais e Sargentos Técnicos Temporários no Exército Brasileiro, em uma mesma base militar, em uma cidade do estado de Goiás. As entrevistas, realizadas pessoalmente e gravadas com consentimento, foram transcritas e analisadas seguindo as etapas propostas por Bardin (2011): pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados.

As motivações para a transição incluíam a busca por melhor qualidade de vida, novas experiências e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. As entrevistadas almejavam compensação financeira, menor desgaste e mais tempo para a família. Quatro principais impactos foram observados: a ressignificação do trabalho, o impacto socioemocional com adaptações culturais e pressões psicológicas, desafios profissionais entre a vida militar e civil, e o impacto pessoal que afetou identidade, relações familiares e saúde emocional, gerando angústia e insegurança.

A transição para a carreira militar revelou uma busca por significado e equilíbrio, mas também expôs desafios significativos. A adaptação às rígidas normas militares e a tensão entre expectativas civis e a realidade militar impactaram profundamente as entrevistadas, gerando angústia e insegurança. Além disso, as mudanças afetaram dinâmicas familiares, trazendo conflitos e alterando comportamentos pessoais.

Akkermans, J. et al. (2024). Career transitions across the lifespan: A review and research agenda. Journal of Vocational Behavior, 148. Colling, A. (2007). The meaning of career. In Hugh Gunz, Maury Peiperl. Handbook of career studies. SAGE Publications. cap. 32 pp. 558-565. Rizzatti, D. B. et al. (2018). Transição de carreira em adultos brasileiros: um levantamento da literatura científica. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, 11(1): 153-173. Steindórsdóttir, B. D. et al. (2023). Career transitions and career success from a lifespan developmental perspective ....