Resumo

Pessoas não-heterossexuais têm suas vidas marcadas por perseguições, preconceito e violências relacionadas a orientação sexual. Ao se desviarem dos estereótipos difundidos socialmente, são consideradas fora da “normalidade” e se veem obrigadas a ocultarem suas identidades pessoais para se preservarem de situações desagradáveis (Masiero, 2013; Resende et al., 2021). Conforme a Teoria Queer, não se deve existir a uniformização de identidades em razão de sua fluidez, devendo a diversidade ser respeitada (Souza, 2017).

No presente estudo, revela-se a seguinte questão-problema: como a contabilidade queering pode auxiliar no processo de desconstrução da heteronormatividade presente na profissão contábil? Nesse sentido, para responder a problemática da pesquisa e preencher o espaço que permanece na literatura especializada, este trabalho tem como objetivo apresentar a contabilidade queering como ferramenta de ruptura da heteronormatividade na profissão contábil.

Nos estudos contábeis, destaca-se o uso da Teoria Queer no progresso de pesquisas referentes a gênero e sexualidade, no entanto, não há a atenção necessária da literatura em relação aos efeitos desencadeados ao questionar parâmetros coercitivos, nem discussões quanto a sua função e importância para o rompimento de normas sociais e organizacionais excludentes (Rumens, 2016).

Para alcançar o objetivo deste artigo, foi aplicado o método da pesquisa qualitativa interpretativa, fundamentando-se em estudos que dissertam sobre as discriminações sofridas pela comunidade LGBTQIAPN+ no meio organizacional. Os dados foram coletados através de entrevistas semiestruturadas com a participação de seis profissionais LGBTQIAPN+ atuantes na contabilidade, sendo cinco homens cisgêneros (quatro gays e um bissexual) e uma mulher cisgênero (bissexual). No mais, as evidências foram examinadas e estruturadas por meio da técnica de análise de conteúdo.

Os resultados traduzem que pessoas não-heterossexuais são afetadas diariamente no exercício da contabilidade, incluindo discriminações em diversos formatos como, por exemplo, ofensas de caráter psicológico, profissional e sexual. Apesar das barreiras demonstradas, essas circunstâncias podem ser superadas pela adoção de debates e ações em favor da diversidade, engajamento de posturas mais inclusivas dentro de ambientes institucionais e o estímulo ao acolhimento e reconhecimento desses profissionais.

A Teoria Queer e os ideais originados dela como a superação do binarismo e dualidade das orientações heterossexual/homossexual fomentam um ambiente de acolhimento para diversos perfis profissionais. A partir do entendimento sobre questões relacionadas a sexo e gênero, pode haver o rompimento dos padrões heteronormativos que apresentam obstáculos na vida de pessoas LGBTQIAPN+ nas organizações, construindo, assim, um cenário na contabilidade, diverso, humanizado, acolhedor e inclusivo, em que profissionais possam ser reconhecidos e valorizados sem anular suas subjetividades.

Masiero, C. M. (2013). Homofobia: história e crítica de um preconceito. Emblemas, 10(2). Resende, P. D. S. J. P., de Souza Bittar, P. D. J., & de Freitas Bittar-Godinho, M. D. (2021). Pequeno manual anti-LGBTfóbico para aprender e ensinar Contabilidade na/para/com a diversidade. XV Congresso da ANPCont. Rumens, N. (2016). Sexualities and accounting: A queer theory perspective. Critical Perspectives on Accounting, 35, 111-120. Souza, E. M. D. (2017). A teoria queer e os estudos organizacionais: revisando conceitos sobre identidade. Revista de Administração Contemporânea, 21, 308-326.