Resumo

Os poucos estudos acerca da reinserção de pessoas com deficiência adquirida demonstram que esse processo tende a se deparar com inúmeras questões psicossociais, organizacionais e legais. Nos casos em que a deficiência é adquirida devido a acidentes laborais e o trabalhador precisa ser reinserido no antigo contexto de trabalho, alguns elementos podem facilitar esse processo, como o conhecimento da gestão e da cultura organizacional, mas também dificultá-lo, como eventuais mudanças nas atividades, realizadas com o objetivo de conciliar as tarefas às características da deficiência.

Existe pouco debate acadêmico sobre a aquisição de uma deficiência por acidente laboral, bem como sobre o processo de retorno ao trabalho após afastamentos relacionados ou não ao trabalho. Assim, esta pesquisa visou a compreender aspectos do processo de reinserção no trabalho de pessoas que adquiriram alguma deficiência devido a acidente laboral, na perspectiva de profissionais de Recursos Humanos, considerando que eles tendem a estar diretamente envolvidos com ações de suporte organizacional e de reinserção laboral, nos casos de adoecimentos e acidentes que geram afastamentos.

Os acidentes de trabalho consistem no principal agravo à saúde dos trabalhadores e, além dos custos financeiros para a saúde pública, para o sistema previdenciário e para as organizações, geram um impacto incalculável do ponto de vista qualitativo para indivíduos, famílias, colegas de trabalho, organizações e sociedade. Nos casos em que um acidente laboral tem como consequência a aquisição de uma deficiência, os impactos podem ir além de questões relativas à reabilitação física e emocional, e repercutir sobre outros aspectos, como as relações com o contexto organizacional.

O presente estudo partiu de uma perspectiva qualitativa, em que se utilizou entrevistas individuais abertas como procedimento de coleta/produção de dados e o método de análise de conteúdo como procedimento de análise de dados. Foram realizadas entrevistas, por meio de programas de comunicação por vídeo, as quais foram audiogravadas e transcritas. A pesquisa contou com a participação de 21 profissionais de Recursos Humanos, sendo 15 mulheres e seis homens, residentes em 12 cidades de Minas Gerais. Este estudo fez parte de um programa de pesquisa aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa.

A pessoalidade e a informalidade caracterizaram muitas das práticas organizacionais de suporte e de retorno ao trabalho de trabalhadores reabilitados, as quais foram influenciadas, principalmente, por três fatores: (1) histórico profissional do trabalhador na organização antes do acidente, (2) impacto do acidente laboral sobre aspectos psicossociais do trabalhador e suas relações laborais e (3) interação entre as características da deficiência adquirida e a qualificação profissional do trabalhador.

O retorno ao trabalho de vítimas de acidentes laborais pode ser influenciado por elementos explícitos (como a demanda por adaptações arquitetônicas), mas também implícitos, que permeiam práticas organizacionais e afetam possibilidades de reinserção de reabilitados. Esses fatores, em especial o histórico profissional antes do acidente (se a pessoa era considerada ou não uma “boa” trabalhadora) podem influenciar a disponibilidade de empresas em realocar o reabilitado ou realizar adequações em postos de trabalho que sejam apropriadas às necessidades da pessoa com deficiência adquirida.

Carvalho-Freitas, M. N., & Santos, J. C. (2023). Capacitismo e Inclusão: Contribuições teórico-práticas da Psicologia Organizacional e do Trabalho. Vetor. Neves-Silva, P., Prais, F. G., & Silveira, A. M. (2015). Inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho em Belo Horizonte, Brasil: Cenário e perspectiva. Ciência & Saúde Coletiva, 20(8), 2549-2558. Simonelli, A. P., & Camarotto, J. A. (2011). Análise de atividades para a inclusão de pessoas com deficiência no trabalho: Uma proposta de modelo. Gestão & Produção, 18(1), 13-26. https://doi.org/10.1590/S0104-530X2011000100002