1 - ANA VITÓRIA ALKMIM DE SOUZA LIMA Universidade Nova de Lisboa - Faculdade de Ciencias Sociais e Humanas
Reumo
Este trabalho analisa as peculiaridades da aplicação da Teoria dos Stakeholders quando o contexto são desastres socioambientais provocados por empresas, notadamente as relações entre a mineradora Vale S.A. e os atores envolvidos na tragédia Ambiental do rompimento da Barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho, em janeiro de 2019. Trata-se de análise qualitativa de dados secundários que descrevem as relações entre empresa, governo e stakeholders no pós-tragédia, em busca de solução para os problemas ocasionados pelo rompimento.
São abordadas as especificidades da aplicação da Teoria dos Stakeholders em questões de Responsabilidade Social Corporativa. O objetivo é verificar como se estruturam as relações entre os stakeholders no pós-tragédia, no caso do rompimento da barragem do Córrego do Feijão, buscando entender se as especificidades do contexto de problemas socioambientais estão sendo levadas em consideração pelos responsáveis, e analisando como a natureza e organização dessas relações tem influenciado na busca de soluções para os problemas advindos do desastre.
Além da Teoria dos Stakeholders, o referencial teórico envolve conceitos da Ecologia Humana, como problemas perversos e a sobrevivência de sistemas socioambientais. Também temas ligados à sociologia e geopolítica, como neocolonialismo e neoextrativismo foram trabalhados, devido ao contexto que envolve o caso estudado. Proposições teóricas que envolvem novos paradigmas para a responsabilidade social corporativa também foram estudados, com vistas a buscar novos caminhos possíveis.
Após a revisão da literatura sobre Teoria dos Stakeholders, Sustentabilidade e Responsabilidade Social, passou-se a um levantamento de artigos publicados, envolvendo a tragédia do Córrego do Feijão, seus antecedentes e o pós-tragédia. O material analisado não se restringe a publicações da área de Administração, adotando a perspectiva transdisciplinar da Ecologia Humana para, por meio de conexões entre várias disciplinas e a Administração, aplicar conceitos provenientes de diversas áreas do conhecimento para analisar as relações entre os stakeholders, entre si e com o problema socioambiental.
A análise demonstra que a perspectiva adotada na busca de soluções para os problemas advindos do rompimento da barragem do Córrego do Feijão é a mais tradicional possível, posicionando a empresa no centro e os stakeholders em seu entorno, e atribuindo a ela (e ao poder público, no caso em tela) o poder decisório. Isso tem acarretado a insatisfação e revitimização da população atingida, que denuncia não estar sendo ouvida nas decisões que vem sido domadas.
É necessário adotar uma perspectiva diferente quando se trata de buscar soluções para problemas socioambientais envolvendo empresas. Organizações socialmente responsáveis devem compreender que teorias e métodos adotados para tratar problemas empresariais não podem ser aplicados quando o contexto envolve o meio ambiente e populações no entorno. É necessário desenvolver e aprimorar processos de escuta e tomada de decisão participativa, sob pena de agravar problemas criados por desastres socioambientais, produzindo quadros de sofrimento e permanente revitimização da população atingida.
Banerjee, Bobby. (2008a). “Corporate Social Responsibility: The Good, the Bad and the Ugly”. Critical Sociology 34 (1): 51–79. https://doi.org/10.1177/0896920507084623
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