Resumo

No cenário de pandemia, declarado pela Organização Mundial da Saúde em 11 de março de 2020 (ONU NEWS, 2020), o Investimento Social Privado (ISP) manteve suas cifras bilionárias em ações que seguem vertentes tanto assistencialistas, quanto estruturantes. As empresas privadas vêm assumindo o protagonismo do enfrentamento ao Covid-19. Segundo a Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR, 2020), por meio do Monitor das Doações da Covid-19, desde que iniciou a pandemia, ultrapassam R$5,6 bilhões. Desse montante, mais de R$4,6 bilhões são realizadas por empresas. (ABCR, 2020).

O GIFE (2020) elaborou diretrizes para os investidores que orientam a atuação da filantropia e do investimento social na crise do Covid-19. Dentre elas: prover o suporte necessário para colaboradores, fornecedores e seus familiares em face do contexto, apoiando-os na preservação da saúde mental e bem-estar e na preservação de rendimentos e receitas para o enfrentamento desse período; e fortalecer os canais de diálogo, cooperação e suporte em face das organizações e projetos apoiados, assegurando a continuidade dos fluxos de doação e financiamento das atividades.

Como as empresas orientam seus investimentos sociais e de que maneira as populações impactadas pelas atividades operacionais são consideradas na tomada de decisão para a aplicação de tais investimentos? O objetivo é propor um instrumento de diagnóstico territorial voltado para a gestão do ISP, considerando o encontro de interesses entre empresa e atores sociais locais, que atenda às necessidades do território, como estratégia para a transformação. Dados os efeitos da pandemia gerada pelo Covid-19, com base em dois estudos de caso, é mister analisar os impactos da pandemia no campo dos ISP.

Por meio do ISP, a Bracell Bahia vem contribuindo no enfrentamento ao coronavírus com dois projetos de destaque: o Projeto de Educação Continuada e o Projeto da Fábrica de Fardamentos. Já a Vale, independente do impacto à imagem e reputação da marca, a pandemia tornou-se uma oportunidade de reverter a imagem negativa deixada pelos crimes cometidos. A empresa tem um pacote de investimentos no enfrentamento à pandemia como USD 1 milhão em colaboração com o Hospital Israelita Albert Einstein, a Rede Mater Dei de Saúde e startups, para escalar soluções para o combate a COVID-19; entre outros.

Ambas as empresas estudadas neste trabalho vêm não apenas realizando aportes de recursos como também replanejando seus programas e projetos para atender demandas que a atual situação impõe a todos, principalmente a da situação de isolamento social. Entende-se que o protagonismo desempenhado pela iniciativa privada no enfrentamento à pandemia não é apenas para expor a “boa vontade em contribuir” e sim por ser necessário à sustentabilidade de seus negócios, um melhor posicionamento de suas marcas e melhoramento de suas imagens e reputações organizacionais.

Uma ferramenta de gestão social será desenvolvida com acesso livre, replicável em diversos territórios, que servirá para nortear novas iniciativas e orientar quanto às ações que poderão ser realizadas por diversos atores sociais. O objetivo é contribuir de imediato para que as empresas tenham subsídios para que elaborem seus planejamentos estratégicos direcionando-os para utilização do investimento social privado. O estudo contribuirá para trazer à prática teorias/discussões sobre a relevância do direcionamento do ISP para viabilizar iniciativas de gestão social de impacto significante.