Resumo

O disclosure ambiental publicado nos RS se insere nas estratégias de legitimação empresariais, com prevalência da linguagem narrativa, que pode ser moldada e enviesada para influenciar e controlar impressões. Elas concebem uma mensagem que molda a forma como públicos relevantes percebem a empresa, com informações que são seletivamente reveladas e enviesadas, com argumentação defensiva, que procura esquivar-se com o uso de termos imprecisos e de caráter atenuante (MERKL-DAVIES; BRENNAN; MCLEAY, 2011; BEATTIE, 2014).

Problema: a ocorrência de acidentes ambientais leva empresas de setores potencialmente poluidores a modificarem o disclosure para legitimarem suas atividades, recorrendo a mecanismos de manipulação que dissimulam e omitem sua responsabilidade pela destruição causada. Objetivo: analisar como as empresas de setores potencialmente poluidores modificam as estratégias de disclosure ambiental após a ocorrência de desastres para legitimarem suas atividades.

Em meio a crises de legitimidade, as organizações enredam esforços voltados a ações de correção, com relatos que dissociam sua imagem do incidente, desviando a atenção do público para outros assuntos, ou realçando a imagem da companhia e associando-a a valores sociais positivos, reforçados com informações auto elogiosas (CHO, 2009). A legitimação de eventos negativos abrange as seguintes estratégias: Autorização, Racionalidade Aparente, Justificar e Eximir-se da Responsabilidade, Manipulação Temática, Manipulação Retórica, Simplificação de Fatos, Ação Corretiva, e Mortificação.

Adotou-se o paradigma interpretativista com abordagem qualitativa e análise de conteúdo, que se apoiou na obtenção de dados de texto. A análise textual implicou na leitura de toda narrativa dos relatórios de sustentabilidade (RS) relativa ao rompimento da barragem, com análise a partir do conteúdo de sentenças, tendo por base as categorias teóricas definidas na revisão da literatura. Isto assegurou melhor interpretação do sentido de palavras e frases, pois procurou-se identificar as seções e qualquer passagem dos RS com menção ao acidente ambiental.

Recorrendo à Autoridade a mineradora conclui que o rompimento da barragem decorreu de abalos sísmicos e incertezas. Na estratégia de Racionalização Aparente, sustenta que o rompimento foi uma fatalidade. Na Simplificação de Fatos finaliza o inventário de animais mortos sem divulgar números. Ela se Exime da Responsabilidade com longas explanações, afirmando que foi envolvida na tragédia. Na Manipulação Temática lembra que suas ações de reparo são uma referência para o setor. Na Manipulação Retórica afirma que 11,1 milhões de m³ de rejeitos se diluem no rio. As amplas Ações Corretivas executadas

A pesquisa verificou que o disclosure ambiental negativo é manipulado retoricamente, com quantidade massiva de informações positivas que ofuscam e desviam a atenção do leitor do disclosure negativo, neutralizado com argumentação defensiva e atenuante. Há contradições entre relatos anteriores e posterior ao desastre, que passam da ostensiva atribuição e reconhecimento de resultados positivos, para a omissão e distanciamento de fatos negativos que corroem a legitimidade da empresa, com manipulação de narrativas que criam uma realidade alternativa dissimuladora.

BEATTIE, V. Accounting narratives and the narrative turn in accounting research: Issues, theory, methodology, methods and a research framework. The British Accounting Review, Lancaster, v. 46, p. 111-134, Jan. 2014. CHO, C. H. Legitimation strategies used in response to environmental disaster: A French case study of Total S.A´s Erika and AZF incidents. European Accounting Review, v. 18, p. 33-62, 2009. MERKL-DAVIES, D. M.; BRENNAN, N. M.; MCLEAY, S. Impression management and retrospective sense making in corporate narratives. Accounting Auditing & Acc. Journal, v. 24, n. 3, p. 315-344, 2011