Resumo

Alguns autores defendem que a atribuição de significados ao trabalho parte de um processo intrínseco, cuja intensidade varia conforme a vivência do indivíduo. Outros, no entanto, propõem que a estrutura de significados se altere conforme a experiência laboral ou de acordo com a natureza da ocupação (Oliveira, Pérez Nebra, & Antloga, 2016). Deste modo, é expectável que a atribuição de significados ao trabalho se diferencie entre ocupações, atividades desempenhadas ou mesmo vínculos profissionais distintos.

Partimos de um problema de pesquisa que pretende responder se há diferenças em relação aos significados e à centralidade atribuídos ao trabalho em função da natureza das atividades, ocupações e setores de trabalho. Deste modo, esta pesquisa tem como objetivo a realização de um estudo de caráter exploratório, de modo a identificar se existem diferenciações entre os significados do trabalho conforme a natureza das atividades desempenhadas, a ocupação e o setor de atuação da empresa.

Segundo Goulart (2009), o significado do trabalho pode ser compreendido como um conjunto de valores, crenças e atitudes em relação ao trabalho, permeado por variações subjetivas no âmbito da organização e do emprego. Na mesma orientação, Rosso et al. (2010) definem o significado do trabalho como a interpretação individual, embora influenciada pelo contexto social, do trabalho e do que ele representa para o indivíduo. Salientam-se os estudos desenvolvidos por Morse e Weiss (1955), pela equipe do Meaning of Work Research Team (Goulart, 2009) e por Morin (2001; 2002; 2004; 2008).

Trata-se de uma pesquisa de caráter exploratório e natureza quantitativa, em que os dados utilizados para as análises foram obtidos através da quinta onda da World Values Survey. A base de dados compreende uma amostra probabilística constituída por 1500 entrevistas realizadas no Brasil. Para realização das análises estatísticas foi utilizado o software Statistical Package for Social Science (SPSS). Considerando-se os objetivos desta pesquisa foram realizadas análises de correlação de Pearson, testes de Qui Quadrado (X2) e análises variância (ANOVA).

Os resultados salientaram algumas diferenças, assim como algumas similaridades, entre os significados atribuídos ao trabalho por parte dos grupos comparativos que compuseram a investigação. Como exemplo, verificou-se que a identificação do trabalho como uma obrigação social se fez mais presente entre os trabalhadores de organizações privadas não lucrativas. A importância atribuída ao trabalho foi mais marcante entre empregadores e gestores, ao passo que a importância da segurança na busca por empregos foi saliente entre os funcionários que atuam para o governo ou instituições públicas.

Os resultados, mesmo que iniciais, podem contribuir para a melhor compreensão dos significados do trabalho no contexto nacional e, ainda que passíveis de generalização devido ao desenho amostral, carecem de maior exploração. Embora tenhamos verificado algumas singularidades em relação aos significados do trabalho quando comparamos grupos em virtude da ocupação, da natureza das tarefas desempenhadas e do setor de atuação, o processo de atribuição desses significados pode ser melhor compreendido através de novas investigações que permitam, inclusive, abordar o fenômeno de maneira qualitativa.

Goulart, P. M. (2009). O significado do trabalho: delimitações teóricas (1955-2006). Cadernos de Psicologia Social e Do Trabalho, 12(1), 47–55 Morin, E. M. (2001). Os sentidos do trabalho. RAE - Revista de Administração de Empresas, 41(3), 8–19. doi: 10.1590/S0034-75902001000300002 Morin, E. M. (2002). Os sentidos do trabalho. Rae Executivo, 1(1), 8–19. doi:10.1590/S0034-75902001000300002 Rosso, B. D., Dekas, K. H., & Wrzesniewski, A. (2010). On the meaning of work: A theoretical integration and review. Research in Organizational Behavior, 30, 91–127. doi: 10.1016/j.riob.2010.09.001