Resumo

É bem provável que a resolução de problemáticas sociais como a pobreza e a exclusão social não podem ser abordadas sem ter em conta a dimensão da tecnologia. Se por um lado, o avanço da tecnologia trouxe uma série de benefícios à humanidade, por outro lado, uma situação de fome, desemprego e caos social ainda persiste em uma grande parte da sociedade (PINTO, 2005; DAGNINO, 2014). Em face à tais contradições, a Tecnologia Social (TS) surge como movimento que orienta o desenvolvimento de produtos, processos ou metodologias, a partir da necessidade dos usuários, visando à inclusão social

A TS é um movimento ainda em construção, e que apresenta lacunas e fragilidades institucionais e práticas (ADAMS et al., 2011; SILVA; BARBOSA; ALBUQUERQUE, 2013). Por outro lado, não foi localizado nenhum estudo que tenha efetuado uma Revisão Sistemática (RS) dos elementos estruturantes da TS, sendo esse o diferencial desta pesquisa. Assim, este artigo teve como objetivo investigar as características dos Elementos Estruturantes da TS, por meio de uma Revisão Sistemática (RS) da produção científica dos últimos 10 anos

O estudo da tecnologia é fundamental no âmbito das pesquisas que relacionam ciência, tecnologia e sociedade. Nota-se que a TS surgiu como resposta à incapacidade de soluções, da Tecnologia Convencional (TC), a um determinado grupo da sociedade. Marcando oposição ao determinismo tecnológico e ao mito da neutralidade tecnológica, surgia na Índia a partir de 1920, o movimento das tecnologias alternativas. Nesse sentido, alguns autores avaliam uma relação considerável entre a TS e a Economia Solidária (LIMA; DAGNINO, 2013; DAGNINO, 2014)

Os principais resultados evidenciaram que: (a) atores de diferentes áreas do conhecimento participam do movimento da TS; (b) a perspectiva teórica mais vinculada nas pesquisas foi a Abordagem Sociotécnica; (c) o princípio da Aprendizagem e Participação como Processo foi o atributo mais destacável; (d) a TS possibilita a inclusão social e contribui para o desenvolvimento local; (e) os limites da TS são devidos a falta de políticas públicas, dificuldades de gestão e financeira, e limitações teóricas; (f) há uma estreita relação entre a TS e a Economia Solidária.

Constatou-se que o movimento da TS é multidisciplinar, tendo como orientação a emancipação e inclusão social por meio da crítica e reconstrução das tecnologias convencionais. Portanto, considerando alguns aspectos contemporâneos, como o alto índice de trabalhadores informais brasileiros e que são potenciais candidatos a exclusão (Dagnino, 2014), justifica-se a necessidade de novas configurações tecnológicas, organizacionais e institucionais. Ao sintetizar o comportamento dos principais elementos da TS, colabora-se assim, para a difusão e implementação dessa tecnologia alternativa

DAGNINO, R. Tecnologia Social: contribuições conceituais e metodológicas. Campina Grande, PB: EDUEPB; Florianópolis, SC: Ed. Insular, 2014. 319 p. RODRIGUES, I.; BARBIERI, J. C. A emergência da tecnologia social: revisitando o movimento da tecnologia apropriada como estratégia de desenvolvimento sustentável. Revista de Administração Pública, v. 42, n. 6, p. 1069–1094, 2008. VALADÃO, J. DE A. D.; ANDRADE, J. A. DE; NETO, J. R. C. Abordagens sociotécnicas e os estudos em tecnologia social. Revista PRETEXTO, v. 15, n. 1, p. 44–61, 2014.