Conflitos Socioambientais
Sociedade Civil
Gestão Social
Área
Administração Pública
Tema
Gestão Social e Organizações do Terceiro Setor
Autores
Nome
1 - Valderí de Castro Alcântara UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS (UFLA) - Departamento de Economia e Administração
2 - ANA ELIZA FERREIRA ALVIM DA SILVA UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS (UFLA) - Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA)
3 - Thatiana Stacanelli Teixeira UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS (UFLA) - Lavras
4 - José Roberto Pereira UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS (UFLA) - Departamernto de Administracao
5 - Eloisa Helena de Souza Cabral UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS (UFLA) - DAE
Reumo
As águas minerais carregam em si diversos motivos de conflitos e de interação social: são almejadas pela exploração mineral por suas características físico-químicas e pelo consumo humano por sua potabilidade e seu potencial para tratamento da saúde. Contrários aos processos de exploração e mercantilização das águas surgiram diferentes movimentos de “justiça hídrica” (CORTE, 2015). Notadamente os movimentos de “justiça hídrica” são formados principalmente por organizações da sociedade civil. Em geral, estes grupos são porta-vozes de outros saberes e fatos-valores nas relações humano-natureza.
A questão que se coloca como fio condutor deste artigo é: como se formou o movimento dos “Guardiões das Águas” na luta pela proteção e preservação das águas minerais no contexto Circuito das Águas de Minas Gerais? Assim, neste artigo descrevemos a constituição do movimento de justiça hídrica “guardiões das águas”, no Circuito das Águas de Minas Gerais, a partir da perspectiva do mundo-da-vida dos atores concernidos.
Habermas (2012) considera os componentes do mundo-da-vida (cultura, sociedade e personalidade) como recursos, não apenas como restrições, tanto para a manutenção dos próprios componentes quanto para a reprodução do agir orientado para o entendimento. Destacamos que mesmo com os avanços da perspectiva habermasiana da Gestão Social (TENÓRIO, 1998; PERES JÚNIOR; PEREIRA, 2014; CANÇADO; PEREIRA; TENÓRIO, 2015; CRUZ, 2017; ALCÂNTARA; PEREIRA, 2017) não foi identificado pesquisa que mobilizou o conceito de mundo-da-vida em pesquisas empíricas. Assim, este artigo busca contribuir nessa direção.
O estudo emerge a partir de mais de dois anos de interação constante entre pesquisadores e organizações da sociedade civil, nos quais foram realizadas visitas, observações, diagnóstico participativo, conversas informais, coleta, sistematização e análise de documentos, enfim, um conjunto de práticas de vivências e de pesquisa. A interpretação dos dados se deu por meio do conceito de mundo-da-vida e, especificamente, utilizando das categorias sociedade, cultura e personalidade para explicitar a constituição de um movimento/coletivo.
Os “guardiões das águas” é uma identidade que unifica a luta pela valorização e proteção das águas minerais como bem comum, direito humano, patrimônio, saúde e identidade local, e se opõe aos processos de exploração comercial das águas minerais no Circuito das Águas. O movimento é formado, principalmente, por organizações da sociedade civil, mas, também por atores do poder público e empresários locais. Constituiu-se em resistência, desde os anos 2000, aos processos licitatórios da CODEMIG, interpretados pelos “guardiões” como privatização das águas e colonização das tradições e valores.
Concluímos mostrando entrelaçamentos entre cultura-personalidade-sociedade nos entendimentos das águas como elementos que os une, socializa, identifica, transmite saberes medicinais e são a maior “riqueza” na construção simbólica dos “povos das águas” e de seus guardiões. O estudo traz contribuições ao campo da Gestão Social ao apresentar uma dinâmica participativa e diacrônica de pesquisa empírica focada em uma problemática pouco investigada pelo campo e que envolvem conflitos pela exploração e gestão das águas.
CORTE, T. D. A (re) definição do direito à água no século XXI: perspectiva sob os enfoques da justiça e da governança ambiental. Tese (Doutorado). Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil, 2015.
HABERMAS, J. Notas sobre o conceito de ação comunicativa. Revista Brasileira de Sociologia da Emoção, v. 14, n. 40, p. 01-25, 2015.
HABERMAS, J. Teoria do agir comunicativo: sobre a crítica da razão funcionalista. São Paulo: Martins Fontes, 2012.
GUIMARÃES, B. C. Direitos coletivos ambientais e a exploração (in)sustentável das águas minerais. Belo Horizonte: Editora Mandamentos, 2009.