Resumo

O empreendedorismo e gênero são temas de elevado interesse para a comunidade acadêmica, porém, a análise frequentemente reside nos atributos do “ser empreendedor” (Gomes et al. 2014). Desejamos adicionar um tema superveniente: a maturidade, que nos parece premente e contemporâneo. Entendendo que a evolução do perfil demográfico, somada à evolução das condições de vida das gerações mais velhas apontam para substantivas mudanças econômico-sociais, o empreendedorismo se apresenta, nos estudos organizacionais, como espaço onde gênero e maturidade vão se fazerem mais presentes.

Esta pesquisa pretende apresentar uma investigação inicial, qualitativa e em profundidade, em situação imersa nessa mudança do perfil demográfico, do significado da participação e posicionamento da mulher madura no trabalho empreendedor, através do seguinte problema: “Qual o significado atribuído pelas mulheres maduras aos seus trabalhos e jornadas empreendedoras?”.

Considerando que o empreendedorismo é um campo transdiciplinar (Boava & Macedo, 2006, 2007), apresentamos os principais significados vinculados a ele a partir dos campos de estudo da Psicologia, Sociologia e Economia; seguido pelos aspectos que circunscrevem as atividades empreendedoras desempenhadas pelas mulheres.

Com a estratégia de estudo comparativo de casos, contamos com a colaboração da história oral de vida, com direcionamento para a atividade empreendedora, combinada com entrevistas semi-estruturadas, a observação não participante e com a análise documental, para conhecer e descrever as condições e a materialidade das atividades das mulheres e de seus empreendimentos. Em seguida, adotamos a Análise Narrativa Dialógica como procedimento de análise de dados e a narrativa como método comunicação, reflexão e conhecimento.

Os resultados apontam que o significado e posicionamento do “trabalho empreendedor na maturidade” foram construídos a partir de suas interações, com destaque para o contexto de referência, não circunscrito ao local das atividades, mas uma bricolagem, em que este é comparado com outros (local, nacional, mundial). Podemos inferir que eles são resultantes da mediação entre suas trajetórias pessoais e como empreendedoras antes de atingirem a maturidade; do simbolismo da ‘aposentadoria’; de serem úteis economicamente ativas; da influência da maternidade e das experiências tidas.

O empreendedorismo adquiriu natureza não antes experimentada a partir de um “acontecimento libertador”, tais como: (i) não ser mais necessária a dedicação principal ao casamento e/ou aos filhos, e/ou (ii) não ser mais necessária a dedicação à outra ocupação profissional. Elas começaram sua caminhada empreendedora com seus próprios pés e, de acordo com os limites, inovaram ao se reinventar. Assim, o significado do “trabalho empreendedor na maturidade” além de sinônimo da abertura e condução de um negócio próprio, para elas é um modo de redenção e de sentirem-se úteis e economicamente ativas.

Boava, D. L. T., & Macêdo, F. M. F. (2006). Estudo sobre a essência do empreendedorismo. Anais do Encontro Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração, Salvador, BA, Brasil, 30. Boava, D. L. T., & Macedo, F. M. F. (2007). Constituição ontoteleológica do empreendedorismo. Anais do Encontro Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração, Rio de Janeiro, RJ. Brasil, 31. Gomes, A. F., Santana, W. G. P., Araújo, U. P., & Martins, C. M. F. (2014). Empreendedorismo feminino como sujeito da pesquisa. Revista Brasileira de Gestão de Negócios, 16(51), 319-342.