Resumo

Título do Artigo

“CARDÁPIO HUMANO?”: PROJEÇÃO DO SELF DIGITAL NA SOCIEDADE LÍQUIDA A PARTIR DOS APLICATIVOS DE RELACIONAMENTO
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Palavras Chave

Apresentação do Eu
Aplicativos de Relacionamento
Sociedade Líquida

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Simbolismos, Culturas e Identidades Organizacionais

Autores

Nome
1 - JUSSARA JÉSSICA PEREIRA
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO (FGV-EAESP) - Curso de Doutorado da Escola de Administração de Empresas de São Paulo
2 - Karen Spencer Mota
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO (FGV-EAESP) - São Paulo
3 - ALICE DE FREITAS OLETO
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO (FGV-EAESP) - São Paulo
4 - Izabely Regina Gibelato
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO (FGV-EAESP) - São Paulo
5 - Maurício Donavan Rodrigues Paniza
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO (FGV-EAESP) - Curso de Doutorado em Administração de Empresas

Reumo

A maneira com que o indivíduo se apresenta em sociedade revela situações comuns do dia-a-dia organizacional, em que a pessoa pode regular a impressão que se forma ao seu respeito (GOFFMAN, 1975), fenômeno que se estende hoje aos aplicativos de relacionamento online. Assim, o objetivo do artigo é analisar como os perfis nos aplicativos de relacionamento podem regular impressões e mudar o modo de se relacionar. A tese é que, a partir do modo como as pessoas se apresentam nos aplicativos, há uma valorização da criação de um eu digital que é também flexível, individual, móvel e acelerado.
A partir dos conceitos de self (GOFFMAN, 1975) aplicado aos contextos digitais e condição líquida da modernidade (BAUMAN, 2001), como os perfis nos aplicativos de relacionamento podem regular impressões e ao mesmo tempo diminuir estruturas rígidas e racionais no modo pelo qual as pessoas se relacionam?
Dois conceitos norteiam a construção do trabalho: o primeiro traz a perspectiva dramatúrgica de Goffman, para entender como as pessoas projetam um personagem nos aplicativos de relacionamento, mediante a criação de um perfil que pode demarcar preferências. O segundo conceito se trata da modernidade líquida de Bauman cujas características têm reflexos em todas as frentes da sociedade, principalmente nas relações humanas, que se tornam cada vez mais flexíveis, fluidas, se movendo e escorrendo sem muitos obstáculos, o que pode ser percebido nos aplicativos de relacionamento.
Esta pesquisa é um estudo de natureza qualitativa e exploratória. Na coleta de dados foram realizadas entrevistas de roteiro semiestruturado com 37 pessoas que utilizavam ou já utilizaram aplicativos de relacionamento como o Tinder, o Happen, o Grindr, entre outros para se relacionar. As entrevistas foram gravadas com o auxílio de um aparelho gravador e tiveram uma duração média de 47 minutos totalizando pouco mais de 29 horas. A análise foi feita mediante um processo de codificação e categorização, em que foram extraídos os significados que ajudassem a responder ao problema de pesquisa.
Os perfis de usuários identificados, ao se cruzarem, podem gerar relações harmoniosas, no que se refere à proximidade de pensamentos, ou conflituosa quando há disparidade de pensamentos e posicionamentos políticos. A partir desses perfis delineados como conflituosos foi possível pensar em estigmas decorrentes das relações estabelecidas entre os usuários de aplicativos. O estigmatizado e o “normal” tentam esquematizar seus encontros de forma a evitá-los. Outros elementos identificados foram: sensação de controle dos usuários, e metáforas atribuídas aos aplicativos como fast food.
A busca por representatividade nos aplicativos gerou uma projeção de imagem do self digital. Essa projeção pode acontecer mediante a criação de um perfil que pode demarcar estéticas e posições sociais. Quando um indivíduo está online buscando um macth, ele busca informação a respeito dessa interação. A rapidez da troca de informações acarreta em uma volatilidade das relações Teorizamos, portanto, que a projeção de imagem do self digital está baseada em diferentes perfis e identidades que são montadas para convencer os outros usuários do aplicativo, sendo esta a principal contribuição empírica.
BAUMAN, Z. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. GOFFMAN, E. Comportamento em lugares públicos: notas sobre a organização social dos ajuntamentos. Petrópolis: Vozes, 2010. GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro: LTC, 1988. GOFFMAN, E. Os quadros da experiência social: um perspectiva de análise. Petrópolis: Vozes, 2012. GOFFMAN, E. The presentation of self in everyday life. Harmondsworth: Penguin Books, 1975.