Resumo

Bourdieu é considerado um dos maiores sociólogos do século XX. No Brasil, embora haja uma relevante produção científica baseada na teoria de Bourdieu, pouco conhecimento sistemático existe no campo dos Estudos Organizacionais. A revisão de literatura evidenciou que a maioria dos autores brasileiros não adota a praxiologia de Bourdieu completa, com uso exclusivo de um ou mais conceitos, e não integrados. Essa aplicação conceitual restrita instiga uma reflexão, em razão da lacuna que se apresenta: como os conceitos centrais da praxiologia de Bourdieu se desenvolveram ao longo de sua obra.

O objetivo deste ensaio teórico é elucidar a construção do quadro teórico de Bourdieu mediante a leitura cronológica consubstanciada nos conceitos de Habitus, Campus e Capital.

Bourdieu desenvolve os conceitos campus, habitus e capital a partir de diversas abordagens epistemológica. Do estruturalismo, deriva a definição de campus e habitus (BOURDIEU, 1979). Do interpretativismo fenomenológico deriva o conceito de habitus – como estrutura estruturada que permite aos agentes constituírem a realidade social em que estão inseridos. Do funcionalismo apreende os métodos estatísticos de pesquisa empírica e análise do espaço social (BOURDIEU, 1979). Do marxismo, Bourdieu apreende a ideia de dominação que é transversal a toda sua obra e central ao conceito de capital.

Para compreender os conceitos-chave apresentados por Bourdieu na Teoria da Prática desenvolvida em mais de três décadas de pesquisas, foi preciso debruçar-se sobre a sua obra e buscar apreender um modus operandi próprio (BOURDIEU, 1997a). Dos 23 livros publicados foram lidos e analisados 17. A leitura foi realizada em ordem cronológica de publicação da primeira edição de cada obra de modo a apreender os conceitos. Não se pretendeu ser exaustivo na representação destes conceitos, mas sim demonstrar o refinamento conceitual ao longo da produção cientifica do autor.

Os conceitos – habitus, campus e capital – vão sendo refinados na medida em que Bourdieu os utiliza em suas pesquisas. Entender o habitus de um gestor pode representar um avanço nas pesquisas sobre organizações e permitir o desenvolvimento de um conhecimento sobre este habitus como resultado de certo “modo de disposições”. O habitus se traduz em propulsores de ação e pensamento que fundamentam o agir do gestor. A organização é o campus onde este agir se manifesta. O conhecimento sobre habitus e campus é indissociável à análise do agente (gestor) e, consequentemente, ao seu capital.

Os conceitos, que em muitos artigos são apresentados como se fossem definições, evidentemente não fazem sentido. Para entender Bourdieu é preciso percorrer o SEU caminho, situar-se em SUAS pesquisas. Bourdieu não define uma única vez, ou somente de uma maneira, os conceitos-chave de sua praxiologia. É preciso enveredar pelas descobertas dos usos dos conceitos, como se eles estivessem em constante aprimoramento. Espera-se que este ensaio contribua para oferecer ao leitor esta visão de Bourdieu, uma “hermenêutica”, delimitada aos conceitos centrais da teoria do autor.

BOURDIEU, P. La Distintion. Ed. Minuit. Paris. 1979 ____________. Ce que parler veut dire. Le français aujoud´hui, 41, mars 1978, p.4-20 et supl. 41, p.51-57 (1982) ____________. Homo Academicus. Ed Minuit. Paris (1984) ____________.Langage et pouvoir symbolique. Ed. du Seuil. Paris. 423p 2001 (1991) ____________. Meditations Pascaliennes.Ed du Seuil. Paris. 391p. 2003(1997a) DORTIER, J.F. Les idées pures n´existent pas. In Pierre Bourdieu. Son oeuvre, son héritage. Ed. Sciences Humanines, p.7-16. 2008 PINTO. L. Pierre Bourdieu et la théorie du monde social. Paris : Ed. Essais (2002). 1a ed.