Resumo

A discussão de assuntos relacionados à alimentação de crianças e adolescentes tem ganhado cada vez mais relevância. Na academia, o tema vem sendo muito discutido por pesquisadores de diferentes áreas. Recentemente, dentro da pesquisa transformativa do consumidor, surgiu o conceito de bem-estar alimentar, que tem a alfabetização alimentar como um dos aspectos. Ela contempla o uso do conhecimento alimentar para maximizar o bem-estar alimentar (Block et al., 2011). O presente artigo pretende colaborar com a discussão da importância dos pais na alfabetização alimentar das crianças e adolescentes.

A partir da contextualização exposta na introdução, definimos o seguinte problema de pesquisa para orientar este estudo: Qual a importância dos pais na alfabetização alimentar das crianças e adolescentes. A pesquisa empírica realizada teve como objetivo identificar a importância dos pais na alfabetização alimentar das crianças e adolescentes na perspectiva do bem-estar alimentar.

A discussão apresentada está fundamentada nos constructos na pesquisa transformativa do consumidor, bem-estar alimentar e alfabetização alimentar. A pesquisa transformativa do consumidor designa pesquisas em comportamento do consumidor com foco no bem-estar dos indivíduos e sociedades (Mick, 2006). O bem-estar alimentar é definido por Block et al. (2011) como uma relação psicológica, física, emocional, e social positiva com os alimentos. A alfabetização alimentar contempla, além do conhecimento nutricional, o uso desse conhecimento para maximizar o bem-estar alimentar (Block et al., 2011).

A metodologia adotada nesta pesquisa é de natureza exploratória e abordagem qualitativa. Os dados foram obtidos por meio de questionário estruturado, com perguntas abertas e fechadas, aplicadas a crianças de 10 a 14 anos. Para analisar as respostas obtidas, usamos análise de conteúdo, inspirada do método proposto por Bardin (2009). Dos 390 questionários aplicados, cinco foram descartados por rasura nas respostas, totalizando 385 questionários analisados. A pré-análise resultou em 10 categorias, que foram descritas para utilização na análise e identificação no material completo.

Na opinião das crianças sobre o que seria alimentação saudável, a categoria “frutas, verduras, orgânicos, naturais etc.” se destacou, aparecendo em 30% das respostas. Quando perguntadas se tinham uma alimentação saudável, 61% das crianças e adolescentes responderam “mais ou menos”. 81% das crianças e adolescentes afirmaram que conversam com os pais sobre alimentação. Por fim, a categoria “saúde” foi a que mais surgiu nos assuntos que as crianças e adolescente dizem que seus pais conversam sobre alimentação, em 21% das respostas.

A combinação das análises sugere que o diálogo sobre alimentação entre pais e filhos ainda ocorre no contexto antigo de alimentação descrito por Block et al. (2011). Ao analisar a opinião das crianças e adolescentes sobre alimentação, ao contrário do que conversam com os pais, surgem assuntos que estão no paradigma do bem-estar alimentar descrito pelos autores emergem como relevantes. Isso pode indicar que as crianças e adolescentes também recebem outras influências, que podem vir da escola, como apontam Pendergast e Dewhurst (2012).

Bardin, L. (2009). Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70. Block, L. G., Grier, S. A., Childers, T. L., Davis, B., Ebert, J. E. J., Kumanyika, S., ... Bieshaar, M. N. G. G. (2011). From nutrients to nurturance: A conceptual introduction to food well-being. Journal of Public Policy & Marketing, 30(1), 5-13. Mick, D. G. (2006). Meaning and mattering through transformative consumer research. Advances in Consumer Research, 33, 1-4. Pendergast, D., & Dewhurst, Y. (2012). Home Economics and food literacy: An international investigation. International Journal of Home Economics, 5(2), 245-263.