Resumo

A adoção da lógica de competências para pensar o Desenvolvimento Sustentável (DS) no ambiente empresarial vem crescendo tanto na literatura da área, como também em programas de iniciativa empresarial . Há por traz deste movimento a ideia de que é necessário criar espaços de aprendizagem para promover o desenvolvimento da capacidade humana no trabalho, no nível individual e coletivo. Um ator que desponta com o propósito de assumir a liderança neste processo é o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), objeto de estudo desta pesquisa.

O intuito da WBCSD é fomentar o desenvolvimento de projetos relacionados com a sustentabilidade. Este artigo propõe-se analisar as estratégias educacionais desta entidade, formais e informais, para mobilizar grandes empresas no discurso e na ação orientada para o desenvolvimento sustentável. Tal propósito tem por intenção responder ao seguinte problema de pesquisa: Os discursos e iniciativas de desenvolvimento de competências para a sustentabilidade do WBCSD são espaços de várias traduções sobre a sustentabilidade corporativa ou lugar de reafirmação de discursos definitivos sobre a temática?

A atuação do WBCSD se dá em um cenário de fortalecimento de instituições internacionais que procuram estimular práticas de negócios que "traduzem" (DERRIDA, 1999) para o ambiente empresarial o Desenvolvimento Sustentável - DS. Trata-se de atores sociais que Stone (2005) reconhece como thinks tanks. O WBCSD, pode ser considerado um exemplo de think tank que atua na orientação para o DS, na medida em que busca organizar cursos de desenvolvimento de competências para a sustentabilidade (MUNCK & SOUZA, 2012), voltado para a qualificação de jovens empresários.

A metodologia de análise ocorreu por meio de desconstrução de Derrida (1999), o objetivo não foi estudar as iniciativas educacionais em si, mas a "tradução" que foi feita pelos empresários no percurso de aprendizagem. Para tanto, analisou-se os documentos institucionais (visão 2050 e ação 2020) e procedeu-se a uma série de visitas in loco nos Conselhos Empresariais do WBCSD (Brasileiro e Português). Além disso, conduziu-se um conjunto de entrevistas em profundidade com os gestores e participantes das iniciativas de Desenvolvimento de Competências para a Sustentabilidade (DCpS).

A análise das iniciativas educacionais dos Conselhos Empresariais do WBCSD (Brasileiro e Português) aponta para propostas formativas de cunho informal e eventual. Os temas tratados nestes programas também não indicam claramente um fomento à inovação ou à emergência de propostas que atendam aos pressupostos descritos no Visão 2050. Isso porque apresentam uma forte componente instrumental, de aplicação de ferramentas gerenciais, que já foram colocadas em dúvida pela sua capacidade de contribuir, de fato, com as mudanças necessárias nas empresas (Raska & Shaw, 2012).

Ao analisar a atuação do WBCSD, observa-se que a entidade precisa avançar em direção a sua dupla responsabilidade diante da questão socioambiental. Não basta que restrinja a sua atuação à resposta aos anseios das empresas associadas, que passa, na maioria das vezes pelo interesse de curto prazo. O WBCSD necessita reconhecer-se como Think Tank que, ao mesmo tempo, realiza iniciativas que colaboram para o desenvolvimento de competências nos agentes de suas empresas associadas, mas que também tem de assumir a sua responsabilidade na concretude e no alcance das iniciativas sustentáveis que fomenta

DERRIDA, J.(1999). O Olho Da Universidade. São Paulo: Estação Liberdade. MUNCK, L., & BORIM-DE-SOUZA, R. (2012). Sustainability and Competencies in Organisational Contexts: A Proposal Of A Model Of Interaction. International Journal Of Environment And Sustainable Development, V. 11, P. 43. RASKA, D., & SHAW, D. (2012). When is Going Green Good for Company Image? Management Research Review, V. 35 N. 3/4. Stone, D. (2005). Think Tanks And Policy Advice In Countries In Transition. Asian Development Bank Institute Symposium. Hanói, Vietnã.