Resumo

Título do Artigo

ENTRE POSSE E ACESSO: Compreendendo a Extensão do Self no Consumo Colaborativo
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Palavras Chave

Self
Consumo Colaborativo
Posse

Área

Marketing e Comportamento do Consumidor

Tema

Consumo, Sociedade e Materialismo

Autores

Nome
1 - Marianny Jessica de Brito Silva
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO (UFPE) - Centro de Ciências Sociais Aplicadas - Recife
2 - Maria de Lourdes de Azevedo Barbosa
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO (UFPE) - PROPAD - Programa de Pós Graduação em Administração
3 - Jairo de Pontes Gomes
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO (UFPE) - Recife

Reumo

Com as mudanças decorrentes de inovações tecnológicas, crises econômicas e preocupações ambientais, novas configurações de consumo surgem, a exemplo do Consumo Colaborativo, incentivando práticas em que a propriedade é substituída pela experiência do acesso. As questões de identidade dentro desse ambiente podem estar sendo pautadas em novos elementos e a extensão do self pode estar ocorrendo a partir de outras propostas em detrimento da propriedade. Assim, a teoria do Extended Self (Belk, 1988) em que pessoas expõem seus selves a partir do que possuem, não é suficiente nestes novos contextos.
A ideia do porque possuir o que se pode alugar por uma hora parece sugerir a existência de mudanças nos processos de produção social da subjetividade e na criação de novos valores e sensibilidades. Assim, a construção/extensão do self pode não estar voltada apenas ao possuir; outros elementos parecem emergir a partir das práticas colaborativas. Portanto, o objetivo deste trabalho é compreender a construção/extensão do self na prática do Consumo Colaborativo por meio do Sistema de Compartilhamento de bicicletas de Pernambuco. Tal compreensão permite uma reflexão da relação entre posse e acesso.
O senso de self (self-concept) refere-se às crenças de um indivíduo sobre seus próprios atributos e à maneira como ele os avalia (Sirgy, 1982). Para Grubb e Grathwohl (1967) o comportamento do indivíduo é orientado para a manutenção do autoconceito, e uma das formas de realizá-la é por meio do uso de produtos como símbolos. Na atualidade, o Consumo Colaborativo surge como uma maneira de atender necessidades e desejos com pouco ônus por meio da partilha, empréstimos comerciais, alugueis e trocas, geralmente organizados em plataformas virtuais (Botsman & Rogers, 2011; Maurer et al., 2012).
No estudo foram utilizadas como técnicas de coleta a observação direta estruturada participante e a entrevista individual não estruturada. A observação foi realizada em algumas das plataformas espalhadas pelas cidades que acolheram e auxiliaram no desenvolvimento do Bike PE. As entrevistas foram realizadas com 24 usuários do projeto, com tempos e finalidades do uso da bicicleta distintos. Os dados foram analisados por meio da Análise de Discurso Social-Hermenêutica.
A construção/extensão dos selves dos usuários está relacionada a dois aspectos: 1) a importância do outro para a prática do pedalar utilizando o Bike PE, especialmente quando esta atividade é realizada à lazer e 2) o comportamento relacionado a capacidade de influência do indivíduo e da sociedade em termos políticos, ambientais e culturais. Tem-se, no primeiro elemento o self relacional e, no segundo, o self influenciador e idealista. Identificou-se ainda que muitos usuários possuem bicicleta, revelando que a possibilidade de acesso à bicicleta não diminui o desejo de possuí-la.
O Consumo Colaborativo exerce um papel facilitador no processo de conexão e comunicação entre indivíduos possibilitando reafirmar elementos de suas identidades ligados à necessidade de se sentir pertencente a um grupo (self relacional) e influenciá-lo. O estudo apontou que o consumidor está disposto a experimentar novos modelos de prestação de serviços sem abandonar antigas práticas de consumo, como a aquisição. Com uma identidade multifacetada, os indivíduos querem aumentar suas possibilidades de extensão e construção do self, vendo tanto no acesso quanto na posse uma oportunidade para isto.
Belk, R. W. (1988). Possessions and the Extended Self. Journal of Consumer Research, 15, 139-168. Belk, R. W. (2014a). You are what you can access: Sharing and collaborative consumption online. Journal of Business Research, 67, 1595–1600. Grubb, E. L., & Grathwohl, L. H. (1967). Consumer Self Concept, Symbolism and Market Behavior: A Theoretical Approach. Journal of Marketing Research, 31, 22-27. Botsman, R., & Rogers, R. (2011). O que é meu é seu: como o consumo colaborativo vai mudar o nosso mundo. Porto Alegre: Bookman.