Resumo

No contexto de mudanças tecnológicos e na prática clínica, a política de Educação Permanente em Saúde se consolida, orientada por alternativas de aprendizagem mais flexíveis e participativas. Com a criação do SUS e da Estratégia de Saúde da Família ficou evidente a necessidade de propiciar a apropriação das questões políticas e organizacionais do sistema pelos futuros profissionais, levando a reorganização dos currículos das residências em saúde. Faz-se necessário, portanto, verificar se esses programas têm preparado os profissionais como preconizado pelo Ministério da Saúde.

A residência em saúde se constitui em uma prática de educação permanente, em nível de especialização, caracterizada por aprendizagem em serviço. Partindo do pressuposto de que é imprescindível para as organizações públicas ou privadas educarem permanentemente os trabalhadores para a prestação de um serviço de qualidade surge a pergunta: o investimento realizado nos programas de residência tem impactado positivamente no desempenho dos profissionais de saúde? A presente pesquisa teve como objetivo geral analisar o impacto dos programas de residência em saúde no trabalho desses profissionais.

Na fundamentação teórica deste trabalho apresentamos a distinção conceitual de treinamento, desenvolvimento e educação, e as bases conceituais e históricas da política de educação permanente em saúde, surgida com a implantação do Sistema Único de Saúde e da política de Estratégia de Saúde na Família. No último subitem abordamos os níveis de análise do impacto da educação em serviços, presentes na literatura. Por fim, apresentamos o modelo teórico-metodológico adotado.

A pesquisa foi realizada em um hospital de ensino da grande Belo Horizonte, vinculado ao SUS. O método de investigação escolhido foi o survey. A dificuldade de encontrar na literatura um instrumento de avaliação para os programas de residência validado, nos levou a tomar como referência a escala de Impacto do Treinamento no Trabalho de Pilati e Abbad (2005). A partir de entrevistas fizemos a adaptação do instrumento para a área da saúde. Obtivemos 104 respostas analisadas por meio de estatística univariada.

As médias foram mais baixas para todas as categorias avaliadas na residência multiprofissional. A categoria ‘reação à programação e apoio pedagógico’ obteve a média mais baixa nos dois programas de residência, indicando a opinião negativa dos participantes quanto as objetivos do curso, carga horária, qualidade e quantidade do material didático. A reação ao desempenho do preceptor obteve o segundo escore mais baixo, revelando a não satisfação quanto à didática e utilidade do feedback. As demais categorias obtiveram resultado entre bom e muito bom.

No que se refere à residência médica podemos afirmar que o programa tem exercido um efeito positivo sobe o desempenho global do residentes. Em ambos os programas a pesquisa evidenciou a necessidade e melhor preparar os preceptores para a função e aprimorar a qualidade do material didático e das instalações educacionais. Verificamos também que a compreensão das diretrizes e funcionamento do SUS e o preparo para exercer a promoção da saúde são pontos frágeis nos dois programas.

MARTINEZ-SILVEIRA, M. S.; ODDONE, N. Information-seeking behavior of medical residents in clinical practice in Bahia, Brazil. Journal of the Medical Library Association: JMLA, v. 96, n. 4, p. 381, 2008. MELO, M. C. et al. Problematizing the multidisciplinary residency in oncology: a practical teaching protocol from the perspective of nurse residents. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 48, n. 4, p. 706-714, 2014. PILATI, R.; ABBAD, G. Análise fatorial confirmatória da escala de impacto do treinamento no trabalho. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 21, n. 1, p. 43-51, 2005.