Resumo

As instituições de ensino superior (IES) que atuam no Brasil têm seu desempenho periodicamente avaliado pelo Ministério da Educação (MEC) e, portanto, precisam definir estratégias competitivas e estratégias de operações que permitam a entrega de um serviço educacional que, simultaneamente, adicione valor aos seus consumidores e atenda aos requisitos estabelecidos pelo MEC. Para tal, a função Operações e os recursos e capacidades operacionais constituem elementos essenciais na operacionalização das estratégias que permitam a oferta de serviços de maior valor percebido.

O presente trabalho busca responder ao seguinte questionamento norteador: como os recursos e capacidades de operações influenciam o desempenho das IES brasileiras? Assim sendo, o objetivo geral desse artigo é analisar a influência dos recursos e capacidades operacionais no desempenho das IES brasileiras. Nesse caso, o desempenho das IES é mensurado pelo resultado do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE), partindo-se do pressuposto de que a oferta de produtos e serviços de maior valor percebido depende da posse de recursos e da geração e retenção de capacidades operacionais.

Na visão de Wu, Melnyk e Flynn (2010), as capacidades operacionais constituem o “ingrediente secreto” na explicação do desenvolvimento e da manutenção da vantagem competitiva. A hipótese básica que direciona o presente trabalho pode ser assim descrita: H1 – Os recursos e capacidades operacionais das instituições de ensino superior brasileiras (infraestrutura e as instalações físicas, qualificação dos docentes e projetos pedagógicos e metodologias de ensino) estão positivamente relacionados com o desempenho da instituição, mensurado pelo MEC.

O estudo configura-se como uma pesquisa exploratória e explicativa, baseada em pesquisa documental e na análise dos dados de 8.727 instituições submetidas à avaliação do MEC em 2014. Para tal, foram selecionados alguns aspectos avaliados pelo MEC como proxy dos recursos e capacidades operacionais: (1) infraestrutura e instalações físicas; (2) quantidade de doutores e; (3) organização didático-pedagógica. Por sua vez, para mensurar o desempenho das IES, foi utilizada a nota média obtida pelos estudantes no ENADE. Para a análise dos dados, utilizou-se a técnica de regressão linear múltipla.

Os resultados mostraram uma influência positiva dos recursos e capacidades operacionais no desempenho das IES, exceto no caso da organização didático-pedagógica, que apresentou uma relação negativa. Além disso, evidenciou-se uma maior importância da qualificação do corpo docente para o desempenho das IES. Voss, Roth e Chase (2008) destacam que o elemento humano é crítico nas operações de serviços, constituindo fator essencial na transição das escolhas das operações de serviços tradicionais para aquelas dos serviços centrados na experiência.

Esse estudo contribui para o campo teórico da estratégia de operações, com foco na visão baseada em recursos, ao testar empiricamente a relação entre recursos, capacidades e desempenho no contexto das operações de serviços, especificamente o serviço de educação superior no Brasil. Os resultados do estudo podem contribuir para um diagnóstico do processo de avaliação das IES brasileiras, efetuado pelo MEC, além de permitir a definição de prioridades por parte das IES na aquisição de recursos e desenvolvimento de capacidades operacionais.

SIRMON, D. G.; HITT, M. A.; IRELAND, R. D. Managing firm resources in dynamic environments to create value: looking inside the black box. Academy of Management Review, v. 32, n. 1, p. 273-292, 2007. VOSS, C.; ROTH, A.; CHASE, R. B. Experience, Service Operations Strategy and services as Destinations: Foundations and Exploratory Investigation. Production and Operations Management, v. 17, n. 3. WU, S. J.; MELNYK, S. A.; FLYNN, B. B. Operational capabilities: a secret ingredient. Decision Sciences, v.41, n.4, p. 721-754, 2010.