Resumo

O contexto contemporâneo das relações de trabalho tem incentivado mais pesquisas com ênfase no indivíduo, dentro do campo de estudo da Administração. Essas pesquisas abordam tanto o comportamento quanto o papel do profissional nas empresas e no mercado de trabalho. No campo comportamento, carreira e estilos cognitivos ainda são assuntos atuais. Na linha do papel profissional, o indivíduo empreendedor é um campo de estudo relevante em função das transformações do mercado e de seu protagonismo no desenvolvimento econômico.

Considerando esse contexto e certa escassez de trabalhos no Brasil e no exterior que relacionam os dois conceitos teóricos, inclusive enfatizando o indivíduo empreendedor, o objetivo desse trabalho é verificar as relações entre os Modelos Contemporâneos de Carreira e os Estilos Cognitivos para os empreendedores, por meio do teste de três hipóteses formuladas com base em referencial teórico.

Os principais conceitos utilizados são a Carreira Proteana (Hall, 2002) e a Carreira sem Fronteiras (Arthur e Rousseau, 1996), dois dos modelos contemporâneos de carreira, o continuum adaptação-inovação KAI (Kirton, 1976) protagonizando o conceito de estilo cognitivo além da definição de empreendedor baseada na abordagem comportamental e de seu papel na sociedade (Baron & Shane, 2007; GEM, 2015; Shane & Venkataraman, 2000).

A pesquisa de abordagem quantitativa foi realizada com 113 empreendedores pertencentes à região Mesorregião Macro Metropolitana de São Paulo, utilizou questionários validados sobre os três modelos teóricos e testou três hipóteses sobre quais modelos que mais se adequam ao perfil empreendedor e a relação entre os constructos. Para análise dos dados, foi utilizada a estatística descritiva e estatística inferencial para testes de associação, sempre considerando o tipo de variável em questão. Pode-se considerar o estudo ainda exploratório.

Nem todas as hipóteses foram confirmadas. No entanto, os resultados sustentam reflexões sobre a interação prática entre os fatores dos modelos teóricos de carreira e a possibilidade de analisar o estilo inovador como parte do perfil do indivíduo empreendedor. Os achados deste estudo agregam novas discussões a outros trabalhos sobre carreira e estilos cognitivos realizados no Brasil e no exterior.

Como contribuição adicional, este trabalho apresenta o início da reflexão sobre a possível influência de fatores contingenciais (características das empresas, aspectos sociais e culturais) sobre aspectos do comportamento dos indivíduos refletidos na carreira e no estilo, além de uma discussão sobre a relação entre estudos acadêmicos e múltiplos sujeitos de pesquisa. O estudo dos temas está longe de estar esgotado e novas possibilidades de pesquisa detalhadas no trabalho podem contribuir com o desenvolvimento do campo de estudo de gestão de pessoas e de empreendedorismo.

Arthur, M. B., & Rousseau, D. M. (1996). A career lexicon for the 21st century. The Academy of Management Executive, 10(4), 28 – 39; Baron, R. A., & Shane, S. A. (2007). Empreendedorismo: uma visão do processo. São Paulo: Thompson Learning; Hall, D. T. (2002). Careers in and out of organizations; Thousand Oaks: Sage; Kirton, M. (1976). Adaptors and innovators: a description and measure. Journal of Applied Psychology, 61(5), 622-629; Shane, S., & Venkataraman, S. (2000). The promise of entrepreneurship as a field of research. Academy of Management Review, 25(1), 217-226. doi: 10.5465/AMR.2000