Resumo

A fotolinguagem consiste em dispositivo utilizado pela psicossociologia como suporte ao trabalho de reflexão do sujeito em grupo - e do grupo - sobre temática previamente definida. Esta técnica tem sido utilizada em grupos de orientações profissional, em intervenções junto a equipes de trabalho dentro de organizações, em acompanhamento psicológico de indivíduos, mas também em ensino e pesquisa nas ciências humanas e sociais. Seus usos são os mais variados, podendo ser exploradas diferentes temáticas.

Este artigo tem como propósito central investigar aplicação do dispositivo da fotolinguagem em ensino e pesquisa sobre o imaginário de executivos e gestores brasileiros em torno da noção de Liderança, com ênfase em competências requeridas a seu exercício e desenvolvimento. Nessa direção, foi orientado pela seguinte questão: De que forma o dispositivo de fotolinguagem constitui-se como estratégia de ensino e-pesquisa associada à temática da liderança e formas de seu desenvolvimento?

A dimensão imaginária tem sido explorada por diferentes autores que pesquisam organizações e sujeitos em situações sociais (BARUS-MICHEL, 2004; ENRIQUEZ, 1997; LAPIERRE, 1995; MORGAN, 2009; ZALEZNIK e KETS DE VRIES, 1995). Apoiado nesses estudos o dispositivo de fotolinguagem vem sendo sugiro não somente na pesquisa, mas também no ensino em Administração, em específico por colocar disponível ao professor estratégia favorecedora da “escuta desarmada”, que permita a criação de novas aproximações de imagens, laços e significações que serão retomadas posteriormente nas articulações teóricas.

Tendo em vista a tipologia tradicional de métodos de pesquisa, a investigação que subsidiou os resultados apresentados neste artigo pode ser caracterizada como um estudo de campo, de natureza qualitativa, desenvolvido por meio do método do estudo de casos múltiplos. Como sujeitos da pesquisa tem-se 176 participantes de programa de desenvolvimento de executivos conduzido por renomada escola de negócios brasileira, distribuídos em turmas realizadas nos estados do Ceará (Fortaleza), Goiás (Goiânia) Minas Gerais (Belo Horizonte), Santa Catarina (Blumenau) e Rio Grande do Sul (Porto Alegre).

Como resultados cabe destacar a prevalência de imaginário de liderança que aponta para tendências quanto a caráter neo-carismático da liderança, associado ao recrudescimento do culto a “grandes personalidades-celebridades”. Aponta-se também para a “despersonalização-instrumentalização” dos sujeitos que vivem do trabalho, com forte apelo a substitutivos da liderança, imaginariamente capazes de superar a subjetividade, o desejo e a volidade humana. Tal quadro corrobora formas alternativas desenvolvimento da liderança que resgatem a dimensão ‘humana’, a partir de narrativas dos próprios sujeitos.

A partir do dispositivo da fotolinguagem e sua articulação com os referenciais teóricos adotados cabe destacar sua aplicabilidade como estratégia de ensino-aprendizagem e pesquisa, evidenciada na possibilidade de apreensão da prevalência de imaginário de liderança que aponta para tendências quanto a caráter neo-carismático da liderança, associada ao recrudescimento do culto a “grandes personalidades-celebridades”. Aponta-se também para a “despersonalização-instrumentalização” dos sujeitos que vivem do trabalho.

ENRIQUEZ, E. A organização em análise. Petrópolis: Vozes, 1997. GIUST-DESPRAIRIES, F. Le désir de penser. Paris: Éd. Téraèdre, 2004. LAPIERRE, L. Imaginário e liderança. São Paulo: Atlas, 1995. MORGAN, G. Imagens da organização. São Paulo: Atlas, 2009. UHL-BIEN, M. Relational leadership theory. The Leadership Quarterly, 17: 654-676, 2006. WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade, São Paulo: Imago, 1995. ZALEZNIK, A. Managers and leaders: are they different? Harvard Business Review, 78: 67-78, 1977.