Resumo

Este trabalho se direciona ao crédito como reprodutor de Dominação Financeira, visualizando o lugar do consumo ao moldar a economia e a sociedade, bem como produzindo e governando subjetividades coletivas e individuais, como estrutura que potencializa ou limita a emancipação dos consumidores. Nesse sentido, restam lacunas teóricas sobre as desigualdades de poder e as explorações financeiras existentes na relação entre o consumidor e os bancos.

O objetivo geral foi de realizar uma análise da construção discursiva dos fornecedores de empréstimo consignado à luz da Análise Crítica do Discurso faircloughtiana. Buscou-se também apresentar os aspectos linguísticos dos discursos dos fornecedores de empréstimo consignado; identificar as estratégias discursivas que legitimam o controle e naturalizam a ordem social das relações de desigualdade desse mercado; analisar as estratégias utilizadas para mascarar a dominação e o poder que alimentam a esfera pública e privada da relação de desigualdade entre consumidor e instituições financeiras.

A fundamentação teórica do trabalho se baseia nas conexões entre a Sociedade de Consumo, a Dominação Financeira, o Consumo de Crédito e o Empréstimo Consignado. A primeira parte destina atenção às discussões sobre a sociedade de consumo e a segunda tece comentários sobre as articulações entre três temáticas fundamentais do trabalho: Consumo de Crédito, Dominação Financeira e Empréstimo Consignado.

Essa pesquisa foi erguida sob o paradigma Humanista Radical, com natureza exploratória e utilizando-se da abordagem qualitativa. Para tanto, o campo foi desenvolvido em uma cidade do interior da região metropolitana de Belo Horizonte, há cerca de 60 km da capital mineira. O trabalho de campo aconteceu em duas etapas – uma com idosos usuários de crédito e outra com fornecedores de crédito. A etapa de análise dos dados coletados, a partir da Análise Crítica do Discurso (ACD), uma corrente proposta por Fairclough (1992).

A Análise Crítica do Discurso compreende a análise linguística dos dados, inserida em reflexões mais amplas sobre o processo social. Portanto, a análise dos dados concentrou-se nas estratégias discursivas que legitimam o controle e naturalizam a ordem social das relações de desigualdade, orientando-se pelo linguístico e pela prática social. Dentre as várias estratégias possíveis, este estudo elegeu três delas: a socialização do discurso; a simulação discursiva e a comodificação do discurso.

Os resultados permitiram perceber que a lógica desse mercado, por vezes, reforça as barreiras ideológicas e a mercantilização da pobreza e seus lucros potenciais às organizações. As práticas de marketing indicam que as disfunções podem pesar mais a performance do negócio do que o equilíbrio na relação com o consumidor, utilizando técnicas sem qualquer escrutínio crítico. A partir dessa observação, reforça-se o domínio baseado no consenso, no comportamento e prática de grupos majoritários que continuam a exercer a Dominação Financeira sobre grupos menores.

Bauman, Z. (2008). Vida para consumo. Rio de Janeiro: Zahar. Bernthal, M. J., Crockett, D., & Rose, R. L. (2005). Credit Cards as Lifestyle Facilitators. Journal of Consumer Research, 32(1), pp. 130-145. Fairclough, N. (2001). Discurso e mudança social. Brasília: UNB. Langley, P. (2014). Consuming credit. Consumption Markets & Culture, 17(5), pp. 417-428. Martins, T. S., Bortoluzzo, A. B., & Lazzarini, S. G. (2014). Competição Bancária: Comparação dos Comportamentos de Bancos Públicos e Privados. Revista de Administração Contemporânea, 13(Especial), pp. 86-108.