Resumo

A Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) é um estudo que delineia perfis das condições de vida dos brasileiros através da análise de seus orçamentos domésticos, por meio de informações como hábitos de consumo e os ganhos e despesas dos indivíduos nos domicílios investigados (IBGE, 2010). No que se refere especificamente à área da Administração, de acordo com Silva et al. (2009), as POF possuem grande potencial para se tornar um instrumento poderoso na tomada de decisões mercadológicas, haja vista sua amplitude e seu detalhamento de informações sobre orçamentos familiares e padrões de consumo.

O problema de pesquisa que este estudo busca responder é: Como se apresenta a produção acadêmica nacional nas Ciências Sociais Aplicadas sobre as Pesquisas de Orçamentos Familiares (POF)? O objetivo deste trabalho é apresentar um panorama da produção científica brasileira que utiliza as Pesquisas de Orçamentos Familiares como base de dados para os artigos na área das Ciências Sociais Aplicadas publicados nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Scientific Periodicals Electronic Library (SPELL) entre 2003 e 2017.

Historicamente, os estudos sobre orçamentos familiares começaram a ganhar visibilidade a partir do momento em que o estatístico Ernst Engel publicou, em 1857, um artigo que demonstrava o impacto do rendimento no perfil dos gastos familiares (SILVA et al., 2009). Para Johnson et al. (2001), somente no início do século XX que pesquisas relacionadas ao orçamento familiar foram sistematicamente delineadas, com a Bureau of Labor Statistics - Agência de Governo dos EUA – mapeando os padrões de consumo das famílias norte-americanas.

Esta pesquisa faz uso do método bibliométrico. O estudo foi realizado em 2 etapas: busca sistemática e análise sistemática da literatura. Na primeira etapa, foram definidas as bases de dados, as palavra-chave, os campos de buscas e os filtros de refinamento. Com base nesses procedimentos, foram encontrados 125 artigos publicados. Após o filtro da área de pesquisa e o recorte nacional, foram selecionados 43 artigos. Na etapa seguinte, os 43 artigos foram lidos e foram excluídos aqueles que não apresentavam a POF como base de dados, restando 39 artigos que compuseram a amostra final da pesquisa.

Foi possível perceber que a partir de 2009 as publicações sobre as POF aumentaram. Contudo, o número de artigos publicados ainda é muito baixo, corroborando com os estudos de Diniz et al. (2007). Foi evidenciado que a temática é mais comum em periódicos da área da Economia, seguidos pela da Administração. Além disso, há um maior número de autores e coautores vinculados à USP, seguidos pela UFPE e UFV. Dentre os artigos mais citados, um chama atenção pela frequência superior em que aparece em relação aos demais, escrito pelas autoras Madalena Schlindwein e Ana Kassouf, ambas vinculadas USP.

Embora seja um vasto e significativo campo de informações, as POF ainda são pouco exploradas na Administração. E quando o são, se referem a estudos específicos na área de Marketing, em relação à segmentação de mercado, consumo e comportamento do consumidor. Contudo, por se tratar de uma pesquisa ampla, que envolve múltiplas variáveis e possui diversas interfaces, as POF também podem ser utilizadas por outras áreas da Administração, como na Contabilidade, Administração Pública e em outros temas em Marketing. Para tanto, basta apenas empreender esforços científicos sistemáticos a este propósito.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009: despesas, rendimentos e condições de vida. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. JOHNSON, D. S.; ROGERS, J. M.; TAN, L. A century of family budgets in the United States. Monthly Labor Review. [S. l.], p. 28-45, 2001. SILVA, H. M. R.; PARENTE, J. G.; KATO, H. T. Segmentação da baixa renda baseado no orçamento familiar. Revista de Administração FACES Journal, v. 8, n. 4, p. 98-114, 2009.