Resumo

Apesar dos esforços de alguns autores a partir da década de 1990 em aprofundar as pesquisas em declínio e assuntos relacionados, ainda estamos longe de compreendermos e explicarmos por que empresas admiradas e bem-sucedidas declinam (Serra, Ferreira, & Almeida, 2013). Para responder essa questão desenvolvemos um estudo empírico quantitativo com empresas brasileiras de capital aberto, com dados coletados de fontes secundárias e testados a partir da análise de regressão, para avaliar o impacto das variáveis fusões e aquisições, verticalização e folga de recursos com o declínio organizacional.

Dadas as peculiaridades do Brasil, as situações vivenciadas pelas empresas brasileiras que enfrentam o declínio podem diferir em relação às empresas no resto do mundo. Entender o declínio no contexto das especificidades nacionais e regionais nas quais as empresas estão inseridas se faz necessário. Diante disso, propomos a seguinte questão de pesquisa: qual o impacto de ações (F&A, integração vertical) e da folga de recursos sobre o declínio nas empresas brasileiras de grande porte? Portanto, essa pesquisa tem como objetivo compreender o impacto das F&A, integração vertical e folga de recursos.

As variáveis F&A, a integração vertical e folga de recursos compõem as hipóteses dessa pesquisa. A opção por analisar ações que têm relação com os recursos organizacionais se justifica dada a importância que os recursos organizacionais têm para o desempenho das empresas. Quando as empresas possuem recursos superiores, elas tendem a apresentar melhores resultados, assim, a qualidade dos recursos possuídos pelas empresas afeta seu estado organizacional (Norman, Butler, & Ranft, 2013). A exploração dos recursos da empresa e sua gestão podem explicar os resultados sobre o desempenho.

Realizamos o método matching-pairs. A amostra foi composta por empresas brasileiras de capital aberto com ações negociadas na BM&FBOVESPA, sendo formada por um grupo de empresas que declinaram (43 empresas) e um grupo de empresas que não declinaram (40 empresas). Os dois grupos de empresas deveriam fazer parte de setores correspondentes, para que fosse possível fazer uma análise maching-pairs coerente. Os dados foram coletados em fontes secundárias como a Economática, Thomson One, CVM e sites das empresas. O relacionamento das hipóteses testamos pela análise de regressão logística.

Os resultados são esclarecedores sobre o impacto que as variáveis F&A, integração vertical e folga de recursos têm sobre o declínio das empresas, o teste que mensurou a relação dessas variáveis, mostrou que existem diferenças significantes entre essas variáveis e o declínio das empresas pesquisadas. Os resultados desta pesquisa trazem à tona a importância dos recursos para o desempenho das empresas. Quando existe uma incompatibilidade entre as necessidades de recursos do ambiente e o investimento de uma empresa em recursos, a criação de valor e o desempenho deverão ser prejudicados.

As contribuições desta pesquisa se estendem a aspectos teóricos e práticos do declínio organizacional. Esse novo olhar lançado sobre o desempenho das empresas brasileiras a partir de uma investigação das empresas que declinaram durante um período considerado de crescimento desmistifica o senso comum sobre o declínio dessas empresas. Além disso, esta pesquisa demonstra a importância de se desenvolver estudos no campo da estratégia, tanto em “cases” de sucesso como de insucesso, o que representa uma oportunidade a ser explorada por pesquisas futuras de estratégia no Brasil.

Hambrick. D. C., & D´Aveni, R. A. (1988). Large corporate failures as downward spirals. Administrative Science Quarterly, 33, 1–23. Norman, P. M., Butler, F. C., & Ranft, a. L. (2013). Resources matter: Examining the effects of resources on the state of firms following downsizing. Journal of Management, 39(7), 2009–2038. Serra, F. A. R., Ferreira, M. P., & Almeida, M. I. R. (2013). Organizational decline: A yet largely neglected topic in organizational studies. Management Research: The Journal of the Iberoamerican Academy of Management, 11(2), 133–156.