Resumo

As primeiras teorias que compuseram o campo da administração foram produzidas por pesquisadores advindos de múltiplos campos disciplinares que tinham uma vivência intensa com o fenômeno administrativo. Essa foi a base de produção do conhecimento que delimitou o campo disciplinar da Administração. No entanto, os estudos que se acumulam apresentam que tanto a formação do administrador quanto a pesquisa em administração se mostram distantes do mundo das organizações.

Considerando que o docente em administração no Brasil acumula, também, o papel de pesquisador em Administração, torna-se cada vez mais importante descrever quem produz conhecimento em Administração, tendo objetivo verificar se as condições de produção do conhecimento em administração no Brasil guardam vinculação com as condições primeiras de constituição do campo disciplinar no que compete a seus praticantes. Entender a produção de conhecimento em Administração por este prisma é entender quem produz conhecimento em Administração, sendo este o problema de pesquisa discutido neste estudo.

Fundamentamos esta pesquisa em duas ações: (1) O Campo da Administração por Pugh e Hickson e o Perfil das Escolas de Administração, no qual discutimos a constituição do campo a partir da pluridisciplinaridade constitutiva, utilizando desenvolvimentos teóricos e empíricos de Pugh e Hickson (2004), Lima e Wood Jr. (2014) e Barros e Carrieri (2015). Além disso, também discutimos (2) A Importância da Pluralidade Constitutiva e o Risco do Distanciamento: o cenário atual das escolas e pesquisa em administração no Brasil e a tendência epistemologizante, em Bertero (2009) e Souza e Wood Jr. (2016).

Contando com uma pesquisa descritiva, com dados secundários, foram analisados 2.032 currículos de autores com publicação na edição XXXIX do EnANPAD a fim de verificar a (i) formação dos autores em nível de graduação e pós-graduação stricto sensu, (ii) se possuem experiência prática executiva e (iii) se são docentes em cursos de administração. A estratégia foi verificar quem produz conhecimento em um fórum que divulga grande número de pesquisas desenvolvidas nos programas de pós-graduação do país, logo, tem participação central na divulgação do conhecimento produzido em Administração no Brasil.

Os resultados sinalizam que as características atuais guardam semelhança com a constituição do campo, uma vez que 49,75% dos participantes tem formação em Administração ao nível de bacharelado, 63,26% possuem mestrado em Administração e 63,39% são doutores em Administração, contando ainda com 72,74% que demonstram experiência prática executiva e 67,42% são docentes em cursos de Administração. Contudo, os resultados são emblemáticos pois mostram que as condições de produção guardam semelhança com a constituição do campo mas a produção de conhecimento se distancia das demandas organizacionais.

Os resultados abrem espaço para uma reflexão sobre a forma atual do ensino e pesquisa em administração no Brasil. O distanciamento entre teoria e prática no ensino em administração, como também o baixo impacto social e reduzida aplicabilidade prática das pesquisas, não acontecem pela falta de experiência prática por parte de pesquisadores e docentes de administração, mas por não estarem conseguindo levar essa experiência a impactar em suas pesquisas e em suas atividades docentes. Estudar como tal situação se constituiu em práticas de pesquisa e ensino se mostra uma avenida para novos estudos.

BENNIS, W. G.; O’TOOLE, J. How business schools lost their way. Harvard Business LIMA, G. M. R.; WOOD JR., T. The social impact of research in business and public administration. Revista de Administração de Empresas, v. 54, n. 4, p. 458-463, Jul./Ago., 2014. PUGH, S. D.; HICKSON, J.D. Os Teóricos das Organiações. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2004. WALSH, J. P.; MEYER, A. D.; SCHOONHOVEN, C. B. A future for Organizational Theory: Living in and Living with Changing Organizations. Organization Science, v. 17, n. 5, p. 657-671, Sept./Oct., 2006.