Resumo

Título do Artigo

“#VAITERBRANCODETURBANTESIM”: O DESLOCAMENTO DO LUGAR DE FALA NA DISCUSSÃO SOBRE A APROPRIAÇÃO CULTURAL
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Palavras Chave

Turbante
Apropriação Cultural
Raça

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Simbolismos, Culturas e Identidades Organizacionais

Autores

Nome
1 - Chiara Gomes Costanzi
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI (UFSJ) - DECAC
2 - Juliana Cristina Teixeira
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI (UFSJ) - PROFIAP
3 - Juliana Schneider Mesquita
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI (UFSJ) - DECAC
4 - Caroline Rodrigues Silva
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI (UFSJ) - CTAN

Reumo

Em fevereiro de 2017, uma jovem brasileira relatou em seu perfil em uma rede social que foi abordada em um metrô por uma jovem negra, que a reprimiu por estar utilizando um turbante, sugerindo que ela o retirasse por ser branca, ao que ela respondeu que o usava por ter tido seus cabelos perdidos em função de tratamento contra câncer. Ao finalizar seu enunciado discursivo, a jovem cria a hashtag “#vaitertodosdeturbantesim”, a qual foi alterada, nas redes sociais, por #vaiterbrancodeturbantesim. O post provocou uma grande mobilização e uma intensa discussão a respeito de apropriação cultural.
O objetivo deste artigo é analisar o deslocamento do lugar de fala na discussão sobre apropriação cultural e suas influências com construções históricas e ideológicas a respeito de raça no Brasil. A questão que visamos responder é: como o deslocamento do lugar de fala sobre a apropriação cultural pode contribuir para o reforço de um processo de invisibilização cultural de grupos socialmente construídos como minorias, e quais são as reflexões para as organizações suscitadas por essa discussão?
O artigo está fundamentando em aspectos sobre as (1) relações raciais no contexto brasileiro, trazendo discussões a respeito da significação do preconceito de marca, influenciado por fenotipias e marcadores contextuais e relacionados aos diversos lugares sociais (NOGUEIRA, 2006) e sobre (2) lugares discursivos de fala e apropriação cultural, entendendo cultura como significados comuns atribuídos por um determinado grupo (GEERTZ, 1973) e o contexto histórico de desapropriação dos elementos culturais dos grupos de negros escravizados como relacionado a condições históricas de acesso à palavra.
O estudo é qualitativo e descritivo e envolveu a utilização da abordagem teórico-metodológica da AFD (Análise francesa do Discurso), tendo como corpus de análise discursos das redes sociais construídos em resposta ao enunciado discursivo tido como ponto de partida e apresentado na Introdução (o relato da jovem sobre a abordagem da jovem negra em relação à utilização do turbante), além da coleta de fragmentos discursivos de uma vítima de um novo caso de racismo envolvendo o turbante ocorrido durante o desenvolvimento da pesquisa, também em 2017.
A principal consequência da hashtag “#vaiterbrancodeturbantesim” foi o silenciamento do aspecto racial no discurso sobre apropriação cultural. A partir do deslocamento do sujeito do discurso de negros para não negros, se silenciam as vozes que dialogam com a questão racial, uma vez que o lugar de fala daquele que emite o enunciado discursivo muda para uma posição privilegiada, que não experimenta as mazelas do racismo. Esse silenciamento contribui para um processo de invisibilização da discussão racial, que é inclusive associada a uma sociedade de consumo na qual operam as organizações.
Analisamos que tal discussão não pode ser destituída do seu contexto de produção, pois no Brasil a exaltação da cultura afro-brasileira não é acompanhada de um movimento concomitante de inclusão. O mito da democracia racial é a peça chave para a compreensão da apropriação cultural no Brasil. Pois ressignificar objetos para que eles possam ser inseridos a uma ideia generalizante de identidade nacional é negar aspectos constitutivos e determinantes para a formação e aspectos identitários brasileiros, contexto no qual, apesar de a população negra ser minoria política, é quantitativamente maioria.
GEERTZ, C. The interpretation of cultures. New York: Basic Books, 1973. HOOKS, B. Alisando o nosso cabelo. Rev. Gazeta de Cuba, Havana, jan-fev. 2005. MUNANGA, K. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. NOGUEIRA, O. Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem. Tempo Social, v. 19, n. 1, p. 287-308, 2006. PÊCHEUX, M. O discurso: estrutura ou acontecimento. Pontes, Campinas, 2008. SANSONE, L. Negritude sem etnicidade. Salvador, Edufba, Pallas, 2003.