Resumo

Título do Artigo

Inovação Tecnológica e Relações de Gênero: Um Estudo com Operárias do Setor Têxtil
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Palavras Chave

Divisão sexual do trabalho
Relações de gênero
Inovação tecnológica

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Genero, Diversidade e Inclusão nas Organizações

Autores

Nome
1 - DARCY MITIKO MORI HANASHIRO
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE (MACKENZIE) - Centro de Ciências Socias e Aplicadas - PPGA
2 - Nereida S. P. da Silveira
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE (MACKENZIE) - CCSA

Reumo

A exclusão social que atinge a mulher se dá muitas vezes pelas vias do trabalho, um fenômeno usualmente transpassado por classe social, cultura, etnia, idade e raça (FISCHER; MARQUES, 2001). Maior a vulnerabilidade do grupo social, maior sua exposição a condições precárias de trabalho, que associado à falta de oportunidades para desenvolver novas habilidades podem constituir uma espécie de “inserção excluída” (POSTHUMA; LOMBARDI, 1997). Estudos apontam que nos processos envolvendo inovações tecnológicas mulheres são sistematicamente excluídas (COCKBURN, 1983).
A abertura econômica do mercado na década de 90 teve profundo impacto na indústria têxtil nacional. Na busca de maior competitividade global, algumas empresas investiram na inovação de maquinário e de processos. Mudanças tecnológicas não são inócuas. Elas "surgem de" e "levam a" mudanças sociais. Este artigo teve como objetivo entender as implicações de uma inovação tecnológica nas relações de gênero em um ambiente de chão de fábrica de uma indústria de fibras têxteis paulista, composta predominantemente por mulheres operárias.
Organizações não são neutras em relação ao sexo e reproduzem a superioridade atribuída ao masculino. As relações sociais de sexo “como todas as relações sociais, possuem uma base material, no caso o trabalho, e se expressam por meio da divisão social do trabalho entre os sexos, chamada de divisão sexual do trabalho” (KERGOAT, 2009, p.67). A divisão sexual do trabalho apresenta dois princípios organizadores: princípio da separação (há trabalhos de homens e trabalhos de mulheres) e o hierárquico (um trabalho de homem vale mais que um trabalho de mulher). (HIRATA; KERGOAT, 2008, p. 266).
A estratégia de pesquisa adotada foi a qualitativa. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas com 22 mulheres operárias (de três turnos operacionais) e quatro profissionais administrativos de uma indústria têxtil paulista. A análise dos dados seguiu os procedimentos de análise de conteúdo, baseada em categorização temática conduzido pelas seis etapas propostas por Creswell (2003). A análise dos dados foi apoiada pelo software de análise de dados qualitativos NVIVO 10. O contingente de empregados era predominantemente feminino, cerca de 60% do total, à época da pesquisa.
Os dados evidenciaram uma inovação de baixo componente tecnológico, com implicações nas relações de gênero no chão de fábrica e tentativas frustradas de mudança na demografia organizacional, para um perfil menos feminino. A divisão sexual do trabalho, já usual neste setor industrial, ficou ainda mais irrefutável com presença maciça de mulheres nos níveis inferiores e de baixa tecnicidade e homens nos cargos técnicos e gerenciais. Os dados também revelaram que a intersecção gênero e idade acentua a vulnerabilidade da operária, frente à modernização tecnológica.
A inovação tecnológica implementada engendrou consequências nas relações de gênero. A modernização dos teares por meio da aquisição de “novas” máquinas foi impondo uma mudança na composição demográfica dos operários quebrando a hegemonia e poder das mulheres. No entanto, essa iniciativa de alteração na divisão sexual do trabalho no chão de fábrica não logrou êxito. A entrada de homens jovens em um ambiente predominantemente feminino deixou fissuras identitárias. Apesar disso, as mulheres mantem-se na organização já que as demais possibilidades de trabalho na região são normalmente informais.
COCKBURN, C. Brothers: Male dominance and technological change. London: Pluto Press, 1983. CRESWELL, J. W. (2003) Research design: qualitative, quantitative, and mixed method approaches. (2nd ed.). Thousand Oaks, CA: Sage Publications. FISCHER, I. R.; MARQUES, F. Gênero e exclusão social. Fundação Joaquim Nabuco. Trabalhos para discussão. n. 113, ago. 2001. HIRATA, H.; KERGOAT, D. A classe operária tem dois sexos. Estudos Feministas. n. 1, p. 93-100, 1994. KERGOAT. D. Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo. In: HIRATA. H. S. et al. (Orgs.). Dicionário Crítico do Feminismo.