Resumo

Na literatura sobre política na organização não há uniformidade na forma como os autores definem o que é comportamento político. Contudo, é possível agrupar as diversas visões em duas categorias dominantes: uma com viés neutro e outra com viés mais negativo. Recentemente a literatura tem apresentado uma abordagem mais favorável à necessidade de se recorrer à ação política. Entretanto, não tem sido eloquente na avaliação dos fatores neutralizadores da ação política negativa e nos elementos catalisadores dos efeitos positivos do comportamento político no processo de tomada de decisões.

Busca-se neste estudo captar e analisar a percepção de executivos sobre o conceito de comportamento político nas organizações, bem como sua visão sobre mecanismos para ampliação de efeitos positivos e redução de efeitos negativos da política organizacional no contexto decisório.

Como fundamentação teórica, a pesquisa abordou vertentes para análise do processo decisório estratégico (EISENHARDT; ZBARACK, 1992; DEAN; SHARFMAN, 1996; ELBANNA; CHILD, 2007a; ELBANNA; CHILD, 2007b), o estudo sobre política nas organizações (CYERT; MARCH, 1992; PFEFFER, 1981; MINTZBERG, 1983; EISENHARDT; BOURGEOIS, 1998; FERRIS; TREADWAY, 2012) e os efeitos, positivos ou negativos, do comportamento político para as organizações (LEPISTO; PRATT, 2012; MAYES; ALLEN, 1977; GANDZ; MURRAY, 1980).

Esta pesquisa utilizou uma abordagem qualitativa exploratória. Como método de coleta, foi feito um levantamento, entre dezembro/2015 e abril/2016, totalizando uma amostra de 110 respondentes, composta por executivos e gestores brasileiros de várias áreas. Este levantamento abordou as seguintes questões abertas: O que significa comportamento político nas organizações? Quais ações são efetivas para ampliar (reduzir) os efeitos positivos (negativos) de comportamento político nas organizações? Na análise do conteúdo dos dados, utilizou-se as fases sugeridas por Marshall e Rossman (2006).

Verificou-se que 44.5% dos respondentes avaliam o comportamento político como um direcionador dos objetivos organizacionais, com uma visão neutra a positiva de sua influência. Com visão mais negativa, 30% avalia como derivado do recurso ao poder e à influência. O restante da amostra apontou respostas divergentes à literatura pesquisada. Sobre os mecanismos de intervenção, o artigo categorizou de 10 tipos de ação. Com cinco voltadas à maximização dos efeitos positivos do comportamento político, duas vinculadas à minimização de potenciais efeitos negativos e três com apoio nas duas direções.

O estudo revela uma maior percepção positiva, dos executivos da pesquisa, sobre o termo comportamento político do que a visão apresentada na literatura. Além disso, os mecanismos de intervenção identificados propiciam framework para desenvolvimento de outros trabalhos, de caráter qualitativo ou quantitativo. Sob a lente gerencial, o artigo demonstra que a política é necessária como instrumento para arbitrar interesses em processos decisórios. Os mecanismos de intervenção apresentados são alavancas potenciais para o uso do comportamento político em prol de melhores resultados organizacionais.

EISENHARDT, Kathleen M.; ZBARACKI, Mark J. Strategic decision making. Strategic Management Journal. [S.l.], v. 13, [s.n.], winter 1992, p. 17-37. LEPISTO, D.A.; PRATT, M.G. Politics in perspectives: on the theoretical challenges and opportunities in studying organizational politics. In FERRIS, Gerald R. (Ed.) Politics in organizations: Theory and research considerations. Routledge, 2012, cap. 3, p. 67-98. MAYES, B; ALLEN, R. Toward a definition of organizational politics. Academy of Management Review, v. 4, 1977, p. 672-677.