Resumo

A preocupação com as emoções e vivências de sofrimento no trabalho deve-se ao aumento dos casos de adoecimento dos profissionais, em sua maioria, por causas de fundo emocional ou psíquico. Na relação entre o indivíduo e o trabalho há uma junção entre a personalidade do trabalhador (sua subjetividade) e o trabalho propriamente dito, que, frequentemente não condiz com aquilo que o sujeito espera da atividade laboral. Dessa divergência decorrem os sentimentos de sofrimento. Esse trabalho trata especificamente das emoções e vivências de sofrimento de professores de graduação.

Busca-se responder ao seguinte problema de pesquisa: como as emoções repercutem nas vivências de sofrimento no trabalho de professores de graduação, em especial a raiva, o medo e a angústia?. O objetivo geral, portanto, consiste em analisar como as emoções repercutem nas vivências de sofrimento no trabalho de professores de graduação, em especial a raiva, o medo e a angústia.

A base teórica adotada nesse trabalho é a Psicodinâmica do Trabalho, criada pelo psiquiatra francês Christophe Dejours. Busca-se, por meio dessa abordagem, trazer para as organizações o conhecimento das consequências individuais e sociais do sofrimento no trabalho. Os sentimentos de prazer e sofrimento no trabalho desencadeiam impactos no funcionamento psíquico dos trabalhadores dependendo se as relações estabelecidas com o trabalho são consideradas satisfatórias ou não. Os sofrimentos considerados aqui estão associados às emoções de raiva, medo e angústia para professores de graduação.

A pesquisa empregou a abordagem qualitativa buscando a compreensão das experiências humanas dentro do contexto dos professores de graduação. A estratégia escolhida foi o estudo de casos de múltiplos, partindo-se de uma orientação interpretativista. Os sujeitos da pesquisa foram sete professores de graduação oriundos de duas Instituições Federais de Ensino Superior – IFES. As técnicas de coleta de dados utilizadas foram entrevista semiestruturada e observação. Finalmente, os dados foram analisados por meio da análise de conteúdo.

Foram escolhidos os relatos que tratavam especificamente de situações e emoções de raiva, medo e angústia. A raiva esteve relacionada com a relação conflituosa com os pares e ao fato da gestão da instituição não colaborar para uma mudança do cenário de trabalho. O medo foi associado ao assédio moral e sexual, danos que o trabalho pode causar à saúde no futuro e indiferença por parte da IFES. Finalmente, a angústia foi relacionada com a falta de reconhecimento, ausência de organização da instituição e à intenção suicida.

Espera-se que as reflexões apresentadas a partir dos relatos de professores de graduação chamem a atenção para o tema das emoções e sofrimento no trabalho no contexto das organizações, bem como promovam mudanças reais nas práticas organizacionais como o desenvolvimento de programas e ações que visem minimizar o sofrimento e aumentar o prazer no trabalho. Acredita-se que estudos com esse mesmo enfoque auxiliarão a ampliar o entendimento sobre a significação da ação humana dentro das organizações gerando avanços nas pesquisas e incitando novas discussões na comunidade científica.

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