Resumo

Título do Artigo

ENTRE A EMERGÊNCIA, A SUBMERSÃO E O SILÊNCIO: LGBT COMO CATEGORIA DE PESQUISA EM GESTÃO
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Palavras Chave

Gestão da diversidade
LGBT
inclusão

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Genero, Diversidade e Inclusão nas Organizações

Autores

Nome
1 - Maurício Donavan Rodrigues Paniza
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO (FGV-EAESP) - Curso de Doutorado em Administração de Empresas

Reumo

Este trabalho reflete a categoria LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) e a sua adoção em pesquisas em gestão. No Brasil, afirma-se que, embora se pretenda construir um campo de pesquisas no assunto, a agenda, no entanto, é majoritariamente destinada às pesquisas sobre gays (Carrieri, Souza, & Aguiar, 2014). Mesmo quando considerados todos os públicos, Carrieri, Souza e Aguiar (2014, p. 80) chamam a atenção para o fato de que LGBT “não é um grupo homogêneo”. Cabe questionar: até que ponto faz sentido unificar a categoria LGBT em um pensamento totalizante desses grupos?
Como pensar a adoção da categoria LGBT (abreviatura da sigla lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) nos estudos em gestão? O interesse por responder a esse questionamento surgiu por conta da percepção de que é necessário construir um desvelamento das lógicas de funcionamento que estão em jogo quando se realiza uma apropriação e aglutinação de grupos sociais tão distintos. De forma mais específica, o questionamento é: será que pode-se tratar sob o mesmo prisma categorias identitárias tão distintas?
A construção teórica do trabalho está embasada em uma versão histórica sobre a constituição dos grupos LGBT no Brasil, evidenciando de que forma este grupo se organizou e se tornou diverso e fragmentado no Brasil (Facchini, 2005). A discussão sobre a adoção da sigla LGBT como categoria unificadora foi embasada principalmente nas ideias de Judith Butler (1998) sobre identidades contingentes, debatendo as operações de exclusão quando se delimita previamente o sujeito de direito da sigla LGBT (César, Duarte & Sierra, 2013).
Para refletir a adoção da categoria LGBT, foi realizado um levantamento de literatura nacional em Administração na base de dados SPELL, que congrega os periódicos científicos brasileiros de Administração, a partir dos termos LGBT, GLBT, gay(s), lésbica(s), bissexual(ais), travesti(s), transexual(ais). Haja vista a pluralidade de termos da busca e o uso de um mecanismo digital de localização, há a possibilidade de que talvez nem todos artigos tenham sido identificados, no entanto, pode-se afirmar que a maioria das pesquisas publicadas em Administração foi encontrada no levantamento.
Foram encontrados 25 artigos sobre LGBT. Pesquisas sobre gays predominam enquanto lésbicas, travestis e transexuais estão sub representadas. Há dois eixos temáticos principais nas pesquisas: consumo e violência. Percebe-se que, embora haja similaridades do ponto de vista de que todas essas categorias identitárias são alvos das violências, o que se justifica por se tratarem de categorias tidas como desviantes, demarcam-se as diferenças entre elas. É nessas diferenças que estão as possibilidades para o ensino de gestão de se questionar a categoria LGBT como construto universal e unificado.
Talvez o campo brasileiro da gestão ainda esteja no momento histórico semelhante ao início dos movimentos LGBTs de reivindicação de direitos universais, haja vista que, além da pouca representatividade das identidades bissexuais, travestis e transexuais, o eixo temático dominante das pesquisas está na violência, evidenciando que o ambiente de trabalho nas empresas é favorável sequer às lésbicas e gays tidos como ‘normais’. Porém, mesmo que se considerasse o eixo temático do consumo, ele está circunscrito a uma parcela específica da sociedade de gays: em geral brancos e com alta escolaridade.
Butler, J. (1998). Fundamentos contingentes: o feminismo e a questão do “pós-modernismo”. Cadernos Pagu, 11. Carrieri, A. P., Souza, E. M., & Aguiar, A. R. C. (2014). Trabalho, Violência e Sexualidade: estudo de Lésbicas, Travestis e Transexuais. Revista de Administração Contemporânea, 18(1). César, M. R. A, Duarte, A. M, & Sierra, J. C. (2013). Governamentalização do Estado, movimentos LGBT e escola: capturas e resistências. Educação, 36(2). Facchini, R. (2005). Sopa de letrinhas?: movimento homossexual e produção de identidades coletivas nos anos 90. Rio de Janeiro: Garamond.