Resumo

A criação de liquidez é uma importante função desempenhada pelos bancos que passou a ser analisada em diversos artigos internacionais sob um novo enfoque após a publicação do artigo de Berger e Bouwman (2009), no qual foi desenvolvida uma metodologia que captura a capacidade dos bancos de criar liquidez. Ao melhor do nosso conhecimento, tal métrica ainda não foi aplicada em estudos que tratem do sistema bancário brasileiro. Este artigo propõe analisar tal métrica no âmbito nacional, buscando uma correlação com as mudanças na estrutura desse mercado no período jan.2012 - dez.2016.

Problema: o aumento recente da concentração no setor bancário brasileiro alterou a capacidade de criação de liquidez dos bancos em atuação no país? Objetivo: identificar se o processo de concentração no sistema bancário brasileiro, no período compreendido entre janeiro de 2012 e dezembro de 2016, teve impacto sobre a capacidade de criação de liquidez dos bancos com atuação no Brasil, considerando a medida desenvolvida por Berger e Bouwman (2009).

A capacidade de criação de liquidez pelos bancos tem sido estudada há muito tempo, mas recentemente passou a ser observada sob um novo enfoque em razão do artigo de Berger e Bouwman (2009). Com base nestes autores, Horváth, Seidler e Weill (2016) investigam como a competição entre bancos influencia a criação de liquidez nestas instituições, para uma amostra de 31 bancos da República Tcheca, no período 2002-2010. Com base nestes autores, este artigo propõe investigar como a concentração de mercado influencia a criação de liquidez pelos bancos no Brasil, considerando balancetes mensais.

Para estimação dos resultados utilizamos o modelo de regressão para dados em painel dinâmico, proposto por Arellano e Bond (1991), cujos estimadores são não-viesados na presença de valores defasados da variável dependente no conjunto de variáveis explicativas. As variáveis incluídas no modelo são valores defasados da variável dependente "Liquidity Creation", variáveis qua capturam características de risco (Z-score, Non Performing Loans e volatilidade do lucro), tamanho, índice de concentração Herfindahl-Hirschman e variáveis macroeconômicas (inflação, PIB e juros).

Em todos os cenários testados o índice de concentração HH não se mostrou significativo nem ao nível de significância de 10%, de forma que a hipótese nula deste estudo não pode ser rejeitada. Assim, conclui-se que não há evidências de que o aumento da concentração no mercado bancário brasileiro teve efeito, negativo ou positivo, sobre a função dos bancos atuantes no país de criar liquidez. Este resultado contribui para o entendimento dos efeitos da concentração bancária no país que, em vista da evolução recente, tanto tem preocupado os agentes de mercado, mídia especializada e reguladores.

Diante da percepção de que a estrutura de mercado não influencia a função de criação de liquidez das instituições financeiras no Brasil, pode-se concluir que o aumento ou a diminuição da concentração não cria riscos, ao menos pelo canal de criação de liquidez, analisado neste artigo. Tal resultado pode ser associado a outros estudos que consideram os efeitos da concentração em variáveis distintas, como lucratividade, risco sistêmico, competição, entre outros, auxiliando as autoridades reguladoras do setor na tomada de decisão.

Arellano, M.; Bond, S. (1991). Some tests of specification for panel data: Monte Carlo evidence and an application to employment equations. Review of Economic Studies, 58, 277-297. Berger, A. N.; Bouwman, C. (2009). Bank liquidity creation. The Review of Financial Studies, 22(9), 3779-3837. Horváth, R.; Seidler, J; Weill, L. (2016). How bank competition influences liquidity creation. Economic Modelling, 52, p. 155-161. Roodman, D. (2006). How to do xtabond2: an introduction to “difference” and “system” GMM in Stata. Working Paper number 103, Center for Global Development.