Resumo

O processo formativo do administrador tende a posicionar seus estudantes como sujeitos tomadores de decisões, autônomos, racionais, críticos e transformadores. Todavia, segundo Marcuse (1973) esse processo se dá com base em pretensões ideológicas, como forma de validar os interesses dos proprietários das organizações através de um veículo que dissemine tais pretensões na sociedade, veículo esse, exposto como administração. A partir disso, fundamentando em proposições teóricas, acredita-se que os administradores tal como são formados, se assentam na racionalidade instrumental e são acríticos.

Tendo isso posto, questiona-se: o administrador é autônomo, crítico ou unidimensional? A partir desse questionamento, o presente trabalho visou tratar dos aspectos inerentes à imagem construída do administrador, no que se refere ao seu caráter racional, crítico e autônomo, conjuntamente com a influência que sua formação exerce como processo progressivo dessa imagem, levantando questões à luz da teoria crítica de Marcuse (1973), compreendendo nessa profissão adjetivos comuns ao do Homem Unidimensional, refletido em sua respectiva Sociedade Unidimensional.

Para tal debate, foi desenvolvida uma pesquisa à luz da obra “A Ideologia da Sociedade Industrial: o Homem Unidimensional” (MARCUSE, 1973). Nela, há uma discussão acerca da industrialização e seu o aparato tecnológico (dentre eles a Administração), como responsáveis pela erradicação do caráter oposicionista, antes, presente na sociedade e no indivíduo, graças a não permissão da racionalidade na divisão do trabalho, pela primazia da esfera produtiva e a busca pelo progresso tornarem o indivíduo menos crítico e mais funcional. Dessa forma, origina-se a Sociedade e Homem Unidimensionais.

A pesquisa proposta foi à conclusiva descritiva, já que o mesmo possui como característica básica a descrição das peculiaridades inerentes à figura do administrador sob a perspectiva crítica. A coleta de dados foi desenvolvida com base documental, do tipo desk research, composta no canal da mídia “EXAME” presente no site youtube.com, (Disponível em: ), empregando a técnica de análise de conteúdo (BARDIN, 2002) em seus vídeos. Foi analisado um total de dez vídeos provenientes da busca pelas categorias “carreira”, “sucesso” e “administração”.

Durante a análise buscou-se identificar traços, características da unidimensionalidade tal como definido por Marcuse (1973) na figura dos administradores, principalmente nas representações requeridas pela profissão, tentando compreender as características administrativas exaltadas nesta mídia e suas relações com as características do Homem Unidimensional, respondendo a questão principal que norteia esta pesquisa, qual seja: o administrador é crítico, autônomo ou unidimensional? Após a análise foi passível a percepção da presença de características da unidimensionalidade nos administradores.

Concluímos a respeito do processo formativo dos administradores que apesar de não serem explorados pela força física e nem pela dureza do trabalho, se comportam como veículo, instrumento, coisa responsável por dissipar a ideologia da sociedade industrial, a unidimensionalidade. Esse é o verdadeiro sentido ideológico da profissão do Administrador: a sua condição de coisa cuja função é ser um mero replicante da dominação, do totalitarismo ao mesmo tempo em que acredita ser dominador e não dominado. Logo, os administradores tal como são formados, não são críticos e autônomos, são unidimensionais.

AKTOUF, O. Ensino de Administração: por uma Pedagogia para Mudança. Rev. Organizações & Sociedade, América do Norte, 12, jun. 2014. Disponível em: Acesso em: 03 Jan. 2016. MARCUSE, H. A Ideologia da Sociedade Industrial: O Homem Unidimensional. Trad. Giasone Peruá. Rio de Janeiro. 1973. (Edição Zahar Editores) 237p. NICOLINI, A. Qual Será o Futuro das Fábricas de Administradores?. RAE-Revista de Administração de Empresas, v. 43, n. 2, abr-jun, 2003.