Resumo

A abordagem de estratégia como prática é uma linha recente de pesquisa nos estudos brasileiros. A abordagem da estratégia como prática busca “atentar com mais seriedade para as práticas sociais, sem desvincular-se do contexto, adotando as relações como ponto central das análises e não mais isoladamente as entidades ou indivíduos” (TURETA, ROSA, SANTOS, 2006, p.1). Autores apontam que a abordagem da estratégia como prática busca principalmente compreender o que realmente fazem os profissionais em estratégia e não apenas ver a estratégia como simples atributo das organizações.

O presente trabalho tem como objetivo investigar o processo de construção e transformação das estratégias socialmente construídas em uma organização produtora de cachaça artesanal, mais especificamente a Cachaça Leblon, através de um modelo de análise para a apreensão e compreensão do fazer estratégia nas organizações.

O enfoque “estratégia como prática” foi construído a partir do diálogo com teorias sociais. Jarzabkowski, Balogun e Seidl (2007) consideram que a estratégia como prática social pode ser vista como conjunto de atividades realizadas com base na interação, negociação e ação, articuladas pelos atores em dado contexto sócio histórico. Essa abordagem assume três categorias centrais de análise: práxis, prática e praticantes. Na abordagem construcionista, os sentidos e os conhecimentos gerados a partir deles são socialmente construídos, estando circunscritos pela cultura, história e contexto social.

A pesquisa trata-se de um estudo de caso, caracteriza-se como qualitativa e tem como base um processo interpretativo. A unidade de análise escolhida foi a Cachaça Leblon, organização produtora de cachaça artesanal. A coleta de dados foi através de entrevista em profundidade com um diretor da empresa, por meio de roteiro com questões abertas. Para as análises, adotou-se o modelo proposto por Brito et al. (2014), que fundamenta-se nos pressupostos ontológicos e epistemológicos da abordagem construcionista. Foram analisadas as práticas de produção, mercadológicas e de gestão.

Sobre as práticas de produção, um fator muito importante para o sucesso da marca foi o conhecimento tácito sobre bebidas dos seus principais investidores, corroborando a noção da estratégia como prática, que afirma que a prática está estreitamente ligada ao fazer. As práticas mercadológicas da empresa tem forte ligação com a experiência do fundador, evidenciando a ligação entre prática e práxis. As práticas de gestão foram identificadas principalmente através de outros documentos analisados, demonstrando que o diretor pode estar mais voltado para as outras práticas ao invés da parte gerencial.

Verificou-se no estudo que as estratégias da organização não passaram por muitas modificações. As análises revelaram que as práticas de gestão e mercadológicas seguem em grande parte as orientações do principal fundador. As práticas de produção sofreram maior influência do especialista em bebidas. Percebe-se que há uma forte ligação entre as práticas estabelecidas na organização e a práxis dos fundadores. O estudo evidencia o caráter sócio-histórico que permeia a elaboração das estratégias, corroborando que o strategizing é um processo socialmente construído, que envolve múltiplos praticantes.

BRITO, M. J., BRITO, V. D. G. P., BORGES, A. F., ANDRADE, L. P. Proposta teórico-metodológica para o estudo da Estratégia como Prática Social: uma abordagem construcionista. Anais ENANPAD, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, v. 38, 2014 JARZABKOWSKI, P., BALOGUN, J., SEIDL, D. Strategizing: The challenges of a practice perspective. Human Relations, 2007, 60(1), 5-27 ORLIKOWSKI, W. J. Practice in research: phenomenon, perspective and philosophy. 2010, p. 23-33. In: GOLSORKHI, D., ROULEAU, L., SEIDL, D., VAARA, E. (Eds.). Cambridge handbook of strategy as practice, Cambridge University Press. 2010, 350p