Sensemaking
Tomada de decisão policial
Incidentes críticos com multidões
Área
Administração Pública
Tema
Gestão e Inovação em Políticas Públicas
Autores
Nome
1 - Valdinei Arcanjo da Silva UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP) - EACH
2 - Andrea Leite Rodrigues UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP) - EACH USP
Reumo
Estádios de futebol são ambientes sensíveis ao surgimento de crises que demandam intervenção policial que passam, necessariamente, por um processo decisório. As decisões protocolares são as mais adequadas, porém, na dinâmica dos acontecimentos, nem sempre o policial implementará ações com base nos manuais e deverá construir sentido ao que está ocorrendo. Esse processo de construção de sentido ou sensemaking (Weick, 1995) pode ser uma ferramenta que auxilie na tomada de decisão e proporcione atuação coerente com os objetivos buscados.
Problema: processo decisório policial nos incidentes críticos com multidões em estádios de futebol a partir da seguinte pergunta de pesquisa: em que medida o sensemaking afeta o processo decisório policial nos incidentes críticos envolvendo multidões em estádios de futebol?
Objetivo: investigar a relação entre sensemaking e o processo decisório nas situações críticas eclodidas nos estádios de futebol durante o trabalho policial com multidões, considerada uma atividade assimétrica e de alto risco.
O trabalho é pautado na teoria sobre sensemaking de Karl Weick (1988; 1993; 1995) que diz respeito à construção de sentidos diante de mudanças que podem afetar pessoas e organizações e que exigem, por consequência, adequações.
Dos Santos (2018) relaciona sensemaking com lógicas institucionais na atividade policial-militar, tendo como objeto de estudo a Polícia Militar do Estado do Paraná.
Matarazzo et al. (2020) estudaram sensemaking e atividade policial no período da pandemia.
Steigenberger (2015) correlaciona sensemaking e a capacidade de decisão frente às crises.
O quadro metodológico se baseou no paradigma interpretacionista (Burrel; Morgan, 1979), sendo adotada abordagem qualitativa, pesquisa exploratória, com revisão bibliográfica e estudo de caso. O quadro empírico foi constituído por 20 entrevistas, com a participação de policiais militares da atividade operacional de um batalhão especializado em policiamento em estádios de futebol. Os policiais foram escolhidos de forma não aleatória. A interpretação foi realizada por meio da análise de conteúdo, mais especificamente Análise Temática (Minayo (1992), com auxílio do software Atlas TI, versão 23.
Sensemaking auxilia no processo de tomada de decisão, principalmente nos casos em que os protocolos não são plenamente aplicados. Verifica-se que o sensemaking ocorre conforme as sete características identificadas por Weick (1995). No entanto, o processo decisório se apoia, principalmente, nos postulados da retrospectividade, sensibilidade do ambiente, observação às pistas e à plausibilidade em vez da precisão. O treinamento e a experiência são componentes que auxiliam nesse processo de reconstrução e busca por alternativas. Com isso, justificam-se ações adaptadas ou improvisadas.
Tomar decisões faz parte do trabalho com multidões em estádios. Os policiais dispõem de protocolos, mas nem sempre serão suficientes para resolver problemas, principalmente quando se tratar de crises. O sensemaking permite aos policiais encontrarem explicações para o que está acontecendo e, com isso, construírem lógicas de ação para continuarem suas atividades. Isso permite analisar comportamentos e decisões e entender que ambientes sensíveis demandam reorganização mental, adaptações e corrida contra o relógio.
DOS SANTOS, F. H. R.. Lógicas institucionais policiais militares. Revista de Gestão Pública - Práticas e desafios, v. 09, n. 1, 2018.
WEICK, K. E.. Enacted sensemaking in crisis situations. Journal of Management Studies, 25, 305-317, 1988.
WEICK, K. E.. The collapse of sensemaking in organizations. Administrative Science Quarterly, 3 8, 628 – 652, 1993.
WEICK, K. E.. Sensemaking in organizations. Sage, 1995.
STEIGENBERGER, N. Emotions in sensemaking: change management perspective. Journal of Organizational Change Management, vol. 28, nº. 3, pp. 432-451, 2015. DOI 10.1108/JOCM-05-2014-0095.