Resumo

O Brasil tem buscado avançar na era digital, investindo em regulamentação e definição legal de metas e objetivos voltados à implementação de estratégias de transformações digitais, a exemplo do contido na Lei nº 14.129/2021, que apresenta princípios, e mecanismos para a implementação de um governo digital, com vistas à melhoria da eficiência na administração pública (Toledo & Mendonça, 2023). Neste contexto de transformação digital do setor público, a inteligência artificial se insere como uma das inovações tecnológicas em destaque (Mergel et al., 2023).

Há carência de pesquisas sobre adoção de inteligências artificiais no setor público (Mergel et al., 2023;), inclusive sobre os desafios quanto à adoção das IAs no setor público (Henman, 2020), e sobre aspectos éticos do uso da IA (Limongi, 2024). Sendo assim, objetivou-se identificar a percepção de servidores públicos brasileiros quanto à adoção da inteligência artificial no seu trabalho, no que diz respeito ao uso, confiança e credibilidade, aspectos éticos, benefícios e desafios, além de verificar se existem variáveis pessoais e profissionais que influenciam em tais percepções.

O mapeamento realizado por Toledo e Mendonça (2023) sobre IAs no setor público brasileiro identificou os seguintes casos: ALICE, Victor, Dra.Luiza,, Sócrates, Bem-Te-Vi, Elis. Os autores aplicaram um questionário com uma amostra de servidores públicos e a maioria informou que conhece pouco sobre IA, mas a maioria indicou que os órgãos que trabalham já aderiram às automações com a inteligência artificial. A maioria indicou grau de concordância quanto ao fato de que o uso da IA é uma oportunidade para o trabalho, trazendo eficiência e agilidade para o trabalho, além de desafios enfrentados.

A pesquisa foi teórico-empírica, descritiva, transversal, quantitativa e qualitativa, com aplicação de questionário eletrônico do Google Forms, com 513 servidores públicos de 23 Estados brasileiros de diferentes esferas de poder e governo. O questionário havia perguntas de múltipla escolha, itens avaliados com escala likert e pergunta aberta. Os dados foram analisados com estatística descritiva (frequência, média, desvio padrão e coeficiente de variação), inferencial para comparação de grupos (Kruskal-Wallis) e análise da nuvem de palavras.

De modo geral, os participantes tem pouco conhecimento sobre IA, 57,9% já utilizam alguma IA no trabalho, sendo a mais recorrente o ChatGPT. 94,7% é favorável ao uso da IA, mas a maioria informou não se sentir preparada para o uso, trazem preocupações de confiança e aspectos éticos, mas acreditam que pode gerar benefícios para organização e para prestação dos serviços públicos. Existem diferenças de percepções quanto a variáveis pessoais e profissionais. O principal benefício é a otimização de processos, e o principal desafio é a confiabilidade.

O artigo alcançou o objetivo ao identificar que a maioria dos participantes da pesquisa utilizam inteligências artificiais no seu trabalho, acreditam nos benefícios que ela pode proporcionar, mas ainda tem algumas restrições quanto à confiança e preocupações com aspectos éticos. Foram identificados os principais benefícios relacionados a otimização de processos, agilidade, produtividade, eficiência, economicidade e melhoria da prestação dos serviços públicos. Há uma clara necessidade de desenvolver competências no servidor ao uso da IA.

Guedes, L., & Oliveira Júnior, M. (2024). Artificial intelligence adoption in public organizations: a case study. Future Studies Research Journal, 16(1), 1-26. Limongi, R. (2024). The use of artificial intelligence in scientific research with integrity and ethics, Future Studies Research Journal, 16(1), 1-10. Mergel, I., Dickinson, H., Stenvall, & Gasco, M. (2023). Implementing AI in the public sector, Public Management Review, 1-14, DOI: 10.1080/14719037.2023.2231950 Toledo, A. T., & Mendonça, M. (2023). A aplicação da inteligência artificial na busca de eficiência pela Administração Pública