1 - Patrícia de Almeida de Paula UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA (UEL) - Campus
Reumo
O cooperativismo origina-se no enfrentamento às mazelas postas pelo capitalismo em relação à imposição de jornadas exaustivas de trabalho e a falta de legislação, as quais impactaram na produtividade e vida dos trabalhadores (Singer, 2002). Nesse contexto, as cooperativas, referem-se a associações de pessoas e empresas econômicas voltadas a satisfação das necessidades de seus sócios/cooperados e a promoção da cultura da cidadania. Estas pautam-se em princípios comuns a Economia Solidária (ES) como: cooperação, autogestão, equidade, solidariedade e sustentabilidade (Luzio-dos-Santos, 2014).
No contexto de Londrina-PR, se sobressaem as iniciativas de formulação de cooperativas de catadores de materiais recicláveis os quais contribuem não apenas em relação a inclusão social dos catadores, mas também econômico e ambientalmente ao munícipio. Diante de tal contexto, esse estudo tem como objetivo compreender as elaborações sobre autogestão e solidariedade construídas pelos cooperados a partir de suas vivências.
A Economia Solidária (ES) engloba diferentes modelos organizacionais, entre os quais, as cooperativas. Ao observar as diferentes experiências em torno da ES, é possível identificar que sua coesão é garantida a partir de cinco princípios: cooperação, autogestão, equidade, solidariedade e sustentabilidade (Luzio-Dos-Santos, 2014). Em relação a tais princípios, verifica-se que a autogestão e a solidariedade se fazem presentes na Cooper Região, situada em Londrina–PR. O município se destaca quanto à adoção de políticas de coleta seletiva antes mesmo da promulgação da PNRS (Aligleri, 2022).
A metodologia engloba uma pesquisa de abordagem qualitativa cujos instrumentos de coleta de dados envolvem a entrevista semiestruturada e a observação direta. Os dados foram analisados pela triangulação a partir do objetivo da pesquisa em estabelecimento de relação junto ao referencial teórico levantado e a observação direta.
Os resultados apontam para que os cooperados associam a autogestão à contraposição do papel na cooperativa, seus direitos e deveres, em comparação com experiências anteriores em empresas capitalistas. Características como participação na definição de regras, divisão de responsabilidades e ganhos são destacadas. A autogestão também influencia as percepções sobre solidariedade. Os cooperados contestam a postura competitiva que tinham como autônomos ou em associações, adotando na cooperativa uma atitude de cooperação, autoajuda e respeito às diferenças.
Diante dos resultados apresentados, é possível concluir que a autogestão na cooperativa analisada é um elemento emancipatório que permite aos cooperados refletirem acerca de seu protagonismo e a sociabilidade que constroem no espaço de trabalho. Contudo, em alguns momentos os catadores antes habituados à catação informal enfrentam dificuldades de adaptação à cultura organizacional da cooperativa, devido à antiga dinâmica competitiva e estigmas sociais, levando a uma postura inicial pouco flexível ou uma visão distorcida do papel de participante e sócio que impacta na solidariedade.
ALIGLERI, Lilian. Modelo de Gestão da Coleta Seletiva no Município de Londrina – PR: Estruturação, Resultados e Desafios, p. 167-188. In: GONÇALVES-DIAS, Sylmara; ZIGLIO, Luciana; CSEH, Amanda. (Org). Coleta Seletiva de Resíduos Sólidos Urbanos: Experiências Internacionais e Nacionais. São Paulo: Blucher, 2022 .
LUZIO-DOS-SANTOS, Luis Miguel. Socioeconomia: solidariedade, economia social e as organizações em debate. São Paulo: Atlas, 2014.
SINGER, Paul. Introdução à Economia Solidária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2002.