Epistemologias e Ontologias em Estudos Organizacionais
Autores
Nome
1 - Paulo Jordão de Oliveira Cerqueira Fortes UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) - CCA
2 - Pedro Jaime Coelho Júnior Centro Universitário da FEI-SP - Programa de Mestrado e Doutorado em Administração
3 - AUDREY SILVA HEIN Centro Universitário da FEI-SP - São Paulo
Reumo
O silenciamento presente na literatura dos Estudos Organizacionais (EOR) é apresentado de duas formas: por meio da não representação intencional ou da exclusão de relacionamento com os atores. Em comum, esses estudos apresentam o silenciamento como uma prática organizacional. Porém, não há uma demonstração de como se configura o silenciamento. A despeito da produção dessas relevantes pesquisas, o tema silenciamento com base na TAR ainda é pouco explorado na literatura nacional e internacional no campo dos EOR.
Diferentemente do que propôs um dos fundadores e principais representantes da Teoria Ator-Rede (TAR), Michel Callon (1986), a prática do silenciamento pode contribuir não para desassociar atores em uma rede, mas para fortalecer as ligações entre eles, garantindo a estabilidade, mesmo provisória, de suas conexões. A fim de lastrear essa sustentação busca-se demonstrar como o silenciamento se constituiu numa prática social capaz de ampliar as associações entre atores que fazem parte de uma rede sociotécnica numa oficina mecânica.
Essa pesquisa está ancorada no diálogo com a Sociologia das Traduções ou TAR (CALLON, 1986; LATOUR, 2005). Segundo Callon (1986) e Latour (2005), a não-representação intencional (CALLON, 1986) e a exclusão de um relacionamento direto com um determinado ator (LATOUR, 2005) são duas maneiras pelas quais o silenciamento ocorre como uma prática que desassocia atores em uma rede.
O trabalho está ancorado numa pesquisa etnográfica realizada em uma oficina mecânica. A empresa, aqui denominada de maneira fictícia como Car Chic, está localizada na capital de um estado do Nordeste. A inserção no campo se deu por intermediação de um ex-aluno de um dos autores. A etnografia foi então empreendida ao longo de oito meses por este autor, que atuou em algumas funções na organização: mecânico, estoquista, vendedor e gerente.
A Car Chique é uma empresa com barreiras flexíveis, que se movem durante os processos de compra e de troca de peças, por exemplo. Os limites de uma organização se tornam diferentes quando se assume que os atores organizacionais se associarão. As barreiras, que ora estavam paradas e em silêncio, se movem com as associações apontadas pela TAR. Ao silenciar, ela realiza o fechamento do negócio, ampliando momentaneamente sua rede com aliados humanos e não-humanos. Portanto, o silenciamento na Car Chique é uma prática de gestão que permite fazer mais associações.
O trabalho de campo etnográfico na oficina mecânica permitiu apresentar alguns exemplos de como atores são silenciados em uma rede de informação para que mais clientes se associem a rede de manutenção. Por meio dos exemplos, demonstrou-se que o silenciamento como prática social nas organizações é uma estratégia mobilizada por atores que conhecem os caminhos seguidos por outros atores e suas repercussões no processo de associar. O silenciamento é utilizado como prática social na condução das atividades organizacionais para ampliar as associações.
LATOUR, B. Reassembling the social: an introduction to actor-network-theory. New York: Oxford University Press, 2005.
CALLON, M. Some elements of a sociology of translation: domestication of the scallops and the fishermen of St Brieuc Bay. In: ______ (ed.). Action and belief: a new sociology of knowledge? London: Routledge, 1986 p. 196 – 233.
CALLON, M.; LAW, J.; RIP, A. How to study the force of science. In: ______; ______; ______ (ed.). Mapping the dynamics of science and technology. 1. ed. London: The Macmillan Press LTD, 1986b. v. 1, cap. 1, p. 3-18.