Resumo

Ao analisarmos especificamente o cuidado, ocupou espaço na mídia e na sociedade, especialmente no período pandêmico, a difusão do termo “economia do cuidado”. O vocábulo é a tradução de Economy Care, tese criada pela cientista política americana Joan Tronto, em 1993, para definir todo tipo de trabalho, remunerado ou não, com o objetivo de manutenção da vida de outras pessoas. É, portanto, um termo inovador que amplia o conceito do trabalho de cuidado não remunerado, caracterizando-o como fundamental para o bem-estar social.

O mote central do presente trabalho é examinar de que modo as práticas da economia do cuidado - considerando-se a existência da desigualdade de gênero, raça e classe nos grupos sociais - são replicadas em outros ambientes destinados ao tema, tendo sido uma escola de educação infantil o lugar escolhido, entendendo-a como uma extensão da representação do cuidado para além do ambiente familiar. A partir desse propósito geral, a pergunta que queremos responder aqui é: Qual o impacto da tríade gênero, raça e classe nas atividades relacionadas à economia do cuidado na escola?

As recentes políticas públicas de reparação de grupos historicamente sub-representados são tema polêmico na sociedade brasileira: muitos ainda não reconhecem essa cicatriz social ou apenas acreditam numa pura histeria de parte desses grupos. Um dos mais exitosos projetos de políticas públicas de transferência de renda do governo federal, o Bolsa Família, ainda é duramente criticado por uma parcela da sociedade.

Conforme cita a psicanalista Vera Iaconelli, não perseguimos temas de pesquisa: são eles que nos perseguem e, desde o inconsciente, nos fazem sonhar e produzir. O tema geral da pesquisa é Economia do Cuidado. O estudo parte da visão de que a escola é integrante do ecossistema do cuidado, especialmente uma creche municipal integral que engloba diversas atividades domésticas, como zelo com as crianças, alimentação, cuidados higiênicos, atividades educacionais e lúdicas. Foi realizado, por fim, um estudo de caso, por meio da técnica de observação não participante com 7 entrevistas.

A partir das 7 entrevistas realizadas, foi elaborada a codificação inicial e organizada no programa MAXQDA, software para análise de dados qualitativos e métodos mistos em pesquisas acadêmicas. Foi gerada uma lista com 36 códigos, que foram classificados por ordem decrescente de frequência, permitindo que, de acordo com Saldaña, percebêssemos o "peso" de um segmento de texto codificado ou de um código em comparação com outros, fornecendo outra medida de magnitude para análise.

Este artigo teve como objetivo analisar se as práticas da economia do cuidado são reproduzidas em um ambiente como uma escola de educação infantil. O motivo para tal escolha se deu pela compreensão de que uma unidade escolar seria uma extensão da ideia de cuidado para além do seio familiar, considerando a escola como uma instituição que lida com desigualdade de gênero, raça e classe que transpassam o ecossistema da economia do cuidado. A elaboração de políticas públicas é, inclusive, o caminho a ser trilhado para implicações e novos caminhos sobre o tema.

AGUIRRE, Rosario. Los cuidados familiares como problema público y objeto de políticas. CEPAL, Sala Medina, 28 y 29 de junio 2005. ARSEL, Zeynep. Asking Questions with Reflexive Focus: A Tutorial on Designing and Conducting Interviews. Journal of Consumer Research 44(4). October 2017 BRUSCHINI, Cristina; RICOLDI, Arlene Martinez. Família e trabalho: difícil conciliação para mães trabalhadoras de baixa renda. Cadernos de Pesquisa, v. 39, n. 136, p. 93-123, abr. 2009. BELK, Russell, Eileen Fischer, and Robert V Kozinets (2013), Qualitative Consumer and Marketing Research, London.| SAGE Publicati