Resumo

Título do Artigo

EXISTE “LIBERDADE” APÓS A PRISÃO? uma análise da trajetória de trabalho de uma mulher egressa do sistema prisional brasileiro a partir dos conceitos de estigma e reprodução social
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Palavras Chave

Encarceramento feminino
Trabalho
Teoria da Reprodução Social

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Diversidade, Diferença e Inclusão nas Organizações

Autores

Nome
1 - Leticia da Silva Matias dos Santos
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS (UNIFAL-MG) - Varginha
2 - Amanda Marques Brito de Souza
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS (UNIFAL-MG) - Instituto de Ciências Sociais Aplicadas
3 - Fernanda Mitsue Soares Onuma
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS (UNIFAL-MG) - Instituto de Ciências Sociais Aplicadas

Reumo

Os debates sobre as relações de poder existentes na sociedade e sua perspectiva no trabalho são complexos e desenham as estruturas desiguais da sociedade. Nestas estruturas, as opressões de raça, classe e gênero promovem a maior vulnerabilidade de mulheres negras e pobres que são aprofundadas e adquirem novas nuances de análise quando há a presença de estigmas, como os das passagens pelo sistema prisional. Nessas circunstâncias, a combinação das opressões de raça, classe e gênero, juntamente com os estigmas, intensifica ainda mais as desigualdades e marginalizações vividas por essas mulheres.
O presente estudo tem como objetivo, utilizando o método de história de vida, analisar as experiências no mercado de trabalho de uma mulher egressa do sistema prisional, sob a perspectiva da Teoria da Reprodução Social.
O prisma da Teoria da Reprodução Social apresenta como homens e mulheres acedem aos meios de subsistência, materiais e psíquicos, de formas distintas, tratando o trabalho como socialmente dividido por meio de três dinâmicas de poder correlacionadas: classe; raça e gênero (Arruza, 2015; Saffioti, 1987). No que diz respeito ao conceito de estigma, Goffman (1981) o define como atributos depreciativos que distinguem negativamente uma pessoa de outras na mesma categoria social, frequentemente consideradas menos desejáveis pela sociedade, passando a considerá-lo uma pessoa deteriorada.
Para a realização desta pesquisa, foi adotada a metodologia de história de vida, a qual possibilitou a captura detalhada e pessoal das vivências da narradora, revelando os detalhes de sua jornada no mercado de trabalho antes, durante e após o período de encarceramento.
A falta de oportunidades para a narradora evidencia que as políticas existentes são mais punitivas do que ressocializadoras, de modo que sair de trás das grades pode significar enfrentar um novo tipo de confinamento, onde as opções são ainda mais limitadas e estigmatizadas. As opressões são intensas e segregadoras, levando o trabalho criminal a se tornar uma opção viável para a reprodução social pós-cárcere, contribuindo para a manutenção de estruturas econômicas desiguais e aumentam a possibilidade de reincidência dos ex-detentos em atividades ilegais para garantir sua subsistência.
Portanto, é indispensável repensar o mercado de trabalho considerando gênero, raça, classe, relações de poder e estigmas sociais, uma vez que não se pode reforçar apenas as retóricas da culpabilização individual sobre o acesso e a permanência neste. Conforme apontado ao longo dos estudos, não há possibilidade de acesso equitativo ao mercado de trabalho para todas as pessoas, e o sistema capitalista se utiliza dessa lacuna para beneficiar e segregar a população carcerária, visando a superexploração e a acumulação de capital
ARRUZZA, C. Considerações sobre gênero: reabrindo o debate sobre patriarcado e/ou capitalismo. Revista outubro, v. 23, n. 01, 2015. GOFFMAN, E. Estigma: Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1981. SAFFIOTI, H. I. B. O Poder do Macho. São Paulo: Moderna, 1987.