Resumo

Título do Artigo

A PARADA LGBTQIAP+ DE BELO HORIZONTE SOB UM OLHAR FOUCAULTIANO
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Palavras Chave

Parada do Orgulho LGBTQIAP+
Belo Horizonte
Michel Foulcault

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Diversidade, Diferença e Inclusão nas Organizações

Autores

Nome
1 - Andressa Carolina do Nascimento Nunes
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - Pampulha
2 - Luiz Alex Silva Saraiva
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - Faculdade de Ciências Econômicas

Reumo

Caracterizadas como marchas celebratórias e de cunho político em torno de temáticas caras ao movimento LGBTQIAP+, é possível afirmar que as “Paradas Gays”, tal como as conhecemos hoje, ganharam forma e sentido a partir da Revolta de Stonewall, em 1969. Todavia, para além do poder de aglomeração, falta a estas organizações uma análise mais robusta, que considere, para além da história, a complexa rede de interfaces em torno de poder, saber e gestão que integra o fenômeno das ditas "Paradas gays", lacuna que pretendemos parcialmente suprir com este artigo.
Considerando a relevância histórica e política das marchas do orgulho LGBTQIAP+ na conquista de direitos para a população em destaque, o foco desta pesquisa se voltou para a análise do evento em si e do contexto no qual se encontra inserido, sob o aporte das ideias de Michel Foucault. A ideia central desse trabalho é examinar a rede de enunciados ativados antes, durante e depois da realização do evento “Parada do Orgulho LGBTQIAP+ de Belo Horizonte” à luz de uma analítica arqueo-genealógica foucaultiana, portanto evidenciando as relações de poder-saber-resistência subjacentes nesse processo.
Partindo de uma visão (não) ontológica e epistemológica, Foucault se debruça sobre muitas temáticas ao longo da sua trajetória acadêmica, sendo pondo em evidência o sujeito e as relações em que se insere. Neste artigo, são quatro os pontos de teorização: "discurso", "enunciado", "poder" e "verdade". Em conjunto, operam em conjunto, pois o discurso, entendido como um conjunto de enunciados, se insere em um sistema de relações de poder que permite aos sujeitos (individuais ou coletivos) pronunciarem enunciados que serão considerados verdadeiros.
Este artigo se origina de uma tese de doutorado realizada em meio à pandemia de Sars-COVID19 a partir de uma perspectiva qualitativa de investigação baseada em pesquisa documental associada a entrevistas, foi levada a cabo uma análise deste evento à luz de aportes foucaultianos. Consolidamos uma base documental de 368 registros fotográficos de ofícios, atas, registros de conselhos, flyers, material de divulgação, e-mails, listas de participação, entre outros documentos relacionados às atividades mantidas pela entidade, complementada pela realização de cinco entrevistas por meio digital.
Os documentos e depoimentos evidenciaram: 1) um evento de grandes proporções em que 2) a cidade é ocupada por corpos abjetos que 3) expressam sua afetividade em público como forma de reiterar sua existência em um processo que 4) apresenta diversas nuances de gestão. Combinados, dimensão, visibilidade, afetividade e gestão constituem a "Parada do Orgulho LGBTQIAP+ de Belo Horizonte" de modo articulado, situados em um contexto histórico de exclusão que orienta a realização deste evento que celebra as diferenças e possibilidades de existir em uma sociedade heteronormativa.
A análise levada a cabo permite concluir que ainda que pese sobre o movimento muito sobre a memória e a necessidade de luta pela igualdade de direitos, não é incomum certa romantização que obscurece dimensões objetivas da gestão. Com isso não se quer reificar a gestão conferindo-lhe mais importância do que efetivamente possui em um sistema de relações políticas regido pela exclusão de quem ousa ser diferente. Mas, ao mesmo tempo, que a luta passa também pela apropriação de aspectos técnicos da gestão, pela aproximação e negociação em torno de ferramentas necessárias ao alcance de resultados.
ARMSTRONG, E. A.; CRAGE, S. M. Movements and memory: the making of the Stonewall myth. American Sociological Review, v. 71, p. 724-751, 2006. BUTLER, J. Problemas de gênero. Feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. FOUCAULT, M. A Ordem do discurso: Aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. São Paulo: Loyola, 1999. FOUCAULT, M. Ditos & Escritos IV: Estratégia, Poder-Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006. FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 2008.