Resumo

A aceleração no ritmo do desmatamento e queimadas na Amazônia tem sido intensa e foi alarmante em 2019, sendo destacadas nos noticiários e debates públicos, ganhando notoriedade em nível internacional. A floresta é uma fonte de valor, material e imaterial, que é constantemente consumida nas operações de suprimento empresariais, com destaque para as cadeias de agronegócios. É elaborada uma compreensão de que as dinâmicas de consumo são construídas sobre três pilares – visão, ação e postura – quando analisadas na sua dimensão institucional, que fundamentam uma orientação para sustentabilidade.

Este estudo tem o objetivo de analisar os pilares do consumo sustentável nos pronunciamentos das empresas do agronegócio sobre a degradação florestal em 2019. Com esse objetivo, é possível ter uma avaliação da correspondência entre os pronunciamentos e a concepção de consumo sustentável neste estudo. Nesse sentido, discutir as diferentes visões, ações e posturas relacionadas à dinâmica do consumo levam à sua melhor compreensão, incorporando questões para a institucionalização de um comportamento organizacional orientado para sustentabilidade.

As diferentes visões de consumo, seja mais individualista ou moralista, e o nível de cidadania e ativismo da organização, estariam relacionados a movimentos de pressão na sociedade e nos mercados (Hemais; Casotti; Rocha, 2013; Barbosa, et al., 2014). Esses movimentos de pressão podem se manifestar como posturas de colaboração ou resistência às políticas macroeconômicas de inserção na ordem econômica global (Arora; Romijn, 2012). As articulações institucionais, incluindo os padrões de consumo, ganham importância nas relações empresariais (Escher; Wilkinson, 2019).

Este estudo é sobre as empresas que atuam nos sistemas agroindustriais e demonstram interesse nas questões de sustentabilidade, principalmente na importância das florestas. Esta pesquisa tem foco e se limita à compreensão das respostas empresariais documentadas. Buscaram-se documentos de cada uma das empresas identificadas, nos quais são realizados pronunciamentos acerca da Amazônia ou das florestas. Foi realizada uma análise de conteúdo, que é um método apropriado para o estudo das comunicações. Nos documentos, foram buscadas as diferentes características estruturantes.

Embora tenha sido possível observar algumas características da visão para o consumo sustentável, este é o pilar que tem construção mais frágil nos pronunciamentos analisados das empresas do agronegócio. Portanto, ainda que tenham sido identificados elementos de ações e posturas para consumo sustentável, tais pilares podem ter dificuldades para serem mantidos em longo prazo devido à fragilidade no pilar da visão. Contudo, o protagonismo das ações organizações empresariais não é traduzido amplamente em uma postura suficiente para o consumo sustentável.

As organizações empresariais se empenham em expressar ações para sustentabilidade em suas comunicações, mas a falta de uma visão ampla fragiliza as ações decorrentes e posturas assumidas. Amparado na perspectiva institucional da sustentabilidade, o presente estudo contribui com os avanços teóricos para a compreensão do consumo sustentável, que incluem a discussão sobre valores sociais compartilhados. Os pilares do consumo sustentável apontados criam condições para mudanças na forma como as empresas se posicionam, provocando questionamentos de valores e buscando orientações de sustentabilidade.

ARORA, S.; ROMIJN, H. The empty rhetoric of poverty reduction at the base of the pyramid. Organization, v. 19, n. 4,p. 481-505, 2012. BARBOSA, L. et al. Trust, participation and political consumerism among Brazilian youth. Journal of Cleaner Production, v. 63,p. 93-101, 2014. ESCHER, F.; WILKINSON, J. A economia política do complexo Soja-Carne Brasil-China. Revista de Economia e Sociologia Rural, v. 57,n. 4, p. 656-678, 2019. HEMAIS, M. W.; CASOTTI, L. M.; ROCHA, E. P. G. Hedonismo e moralismo: consumo na base da pirâmide. RAE-Revista de Administração de Empresas, v. 53,n. 2, p. 199-207, 201