“A VIOLÊNCIA TRAVESTIDA FAZ SEU TROTTOIR”1: uma análise da violência simbólica Bourdieusiana nas relações de orientação na pós-graduação em Administração
Relações de orientação
Violência Simbólica Bourdiesiana
Pós-graduação
Área
Ensino e Pesquisa em Administração
Tema
Formação do Professor e Pesquisador
Autores
Nome
1 - Polyanna Torres Pinheiro UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA (UFPB) - PPGA
2 - Bárbara Barros Paulino UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA (UFPB) - João Pessoa
Reumo
A violência simbólica (Bourdieu 2007) refere-se ao poder exercido de maneira não física, que molda e mantém hierarquias sociais. Isto resulta e produz formas de dominação social que se internalizam, reforçando estruturas de poder existentes. As dinâmicas hierárquicas subjacentes às relações de orientação na pós-graduação muitas vezes podem refletir formas de violência simbólica. Essas relações nem sempre são igualitárias, e o conceito de violência simbólica de Bourdieu oferece uma lente teórica valiosa para compreender as dinâmicas de poder presentes nessas interações.
Este artigo possui o seguinte problema de pesquisa: como a violência simbólica Bourdieusiana é exercida nas relações de orientação da pós-graduação em Administração? Buscamos explorar como a violência simbólica Bourdiesiana se manifesta nas relações de orientação na pós-graduação, examinando os mecanismos pelos quais os orientadores exercem influência sobre seus orientandos, e as consequências disso para a formação acadêmica e profissional dos estudantes.
Uma das maiores vertentes de Bourdieu reside no entendimento dos mecanismos de reprodução de desigualdades sociais. Sua teoria aborda como o poder é exercido e reproduzido em sociedades complexas, destacando os capitais econômico, cultural e social na manutenção das hierarquias sociais (Bourdieu, 2017). Como execução do poder, a violência simbólica é perpetrada por meio da imposição de formas legitimadas de conhecimento, comportamento e valores, que acabam naturalizadas e internalizadas pelas pessoas, tornando-as subservientes às estruturas de poder dominantes (Bourdieu, 2007).
A pesquisa se deu por meio de entrevistas online do tipo história oral com nove estudantes da pós-graduação em Administração de diferentes regiões do Brasil, a fim de compreender como a violência simbólica pode ser exercida nas relações de orientação. Todos os entrevistados consentiram a gravação das entrevistas e o material foi transcrito para interpretação dos dados. O material produzido foi interpretado por meio da análise da narrativa, considerando os conceitos bourdieusianos indissociáveis de campo, capital, poder simbólico e violência simbólica para investigar o fenômeno.
Foi possível chegar à percepção, a partir dos dados empíricos que emergiram do campo, de que o orientador é uma figura central da orientação, e que a prática de orientação pode ser perpassada pela violência simbólica a depender do modo como o orientador conduz a prática e o orientando lida com a relação. A violência simbólica permeou os relatos dos estudantes, evidenciada pelas relações de poder entre orientadores e orientandos, e está representada pela categorização dos seguintes tópicos: “imposição de normas condicionantes”, “desqualificação do estudante” e “ausências”.
A violência simbólica é expressada por formas sutis e arbitrárias de imposição de poder dos orientadores. A “imposição de normas condicionantes” está associada ao dever de cumprir normas impostas sob a condição de prejuízos, retaliações ou abandono de orientação. A “desqualificação do estudante” é expressada pelas cobranças em público e pelos comentários negativos sobre o orientando, desqualificando os seus esforços. Já as “ausências” são representadas como um “símbolo’’ do poder do orientador que se utiliza de sua posição dominante na relação de orientação para agir de forma ausente.
BOURDIEU, P. Homo Academicus. 2. ed. 1. reimp. Florianópolis: Ed. da UFSC,
2017.
BOURDIEU, P. A Distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp; Porto Alegre, RS: Zouk, 2007.
BOURDIEU, P. O poder simbólico. Tradução Fernando Tomaz. Lisboa; São Paulo: Difel; Bertrand Brasil, 1989.
GRENFELL, M. Pierre Bourdieu: conceitos fundamentais. Tradução: Fábio Ribeiro. Petrópolis: Vozes, 2018.