Resumo

Com a pandemia por Covid-19, somada a movimentos sociais pré-existentes, em busca de qualidade de vida, observou-se a transformação na forma de consumo de produtos e serviços. Municípios rurais, próximos a metrópoles, observaram a imigração momentânea ou permanente de indivíduos, que passaram a participar de atividades agropecuárias locais. Nesse sentido, o município de São Bento do Sapucaí, localizado a 185 km de São Paulo, dedicado à agropecuária, registrou o aumento da renda per capita em torno de 89,5% entre 2019 e 2021, o aumento populacional e o surgimento de pequenas e médias empresas.

A partir de questionamentos relacionados a novas formas de consumo de produtos turísticos, incorporação e manutenção de atividades turísticas, inovações e diversificações em zonas rurais, investiga-se como ocorre o processo de estruturação e manutenção do turismo em propriedades agrícolas, sob a ótica dos agroprodutores. O artigo oferece um olhar sobre o agroturismo a partir do agroprodutor, para investigar a sequência de ações empreendidas, argumentando a partir das teorias propostas, que os mercados se desenvolvem a partir de relações sociais e suas relações com a estrutura.

A partir da definição de Agroturismo (BRASIL, 2010), o artigo aplica a teoria de Campo de Ação Estratégica (FLIGSTEIN; MCADAM, 2012), perspectiva da sociologia econômica, que fornece a concepção da lógica de um ecossistema composto por um conjunto de ordens sociais. Agrega-se o conceito de Curso de Ação (BERTAUX, 2014) para o entendimento da ação conduzida pelo indivíduo intencionando uma mudança de condição social. Por fim, ancora-se nas revisões de literatura de Basta e Meirelles (2022) e Basta, Meirelles e Sambiase (2023) sobre o empreendedorismo e os impactos da pandemia no agroturismo.

A vertente empírica emprega o método Narrativas de Vida (BERTAUX, 2020), com o objetivo de fornecer o entendimento do microambiente social do individuo. O método, de perspectiva etnossociológica, parte dos pressupostos do desconhecimento da sociedade e da compreensão individual do microambiente social. Foram selecionados cinco participantes para realização da entrevista narrativa (aberta). O artigo seguiu quatro fases:1). Análise de dados disponíveis em bases secundárias, sobre a região estudada; 2) Observação Exploratória; 3) Início das entrevistas; 4) Observação final.

Intencionando alcançar os significados das narrativas e a criação de modelo conceitual do processo de estruturação e manutenção do turismo em propriedades agrícolas, foi realizado o agrupamento dos enunciados que emergiram dos participantes. Em adição, as narrativas apresentam as ações orientadas para a mudança social dos atores, objetivando seu estabelecimento no campo, revelando-se a lógica social que molda o processo de implantação, orienta as diversificações nas propriedades e condiciona a identidade dos participantes.

Por meio da Teoria de Campos Estratégicos, evidenciou-se os atores relevantes, as relações sociais entre atores e os choques endógenos e exógenos que compõem o processo de estabelecimento e de desenvolvimento de propriedades agrícolas, a partir dos seus contextos e estruturas, ressaltando os processos de mudança para a aplicação de diversificações e estruturação do agroturismo. O conceito de Curso de Ação apurou que a lógica social dos atores, objetivando seu estabelecimento no ambiente pretendido, condiciona suas ações estratégicas, definindo as diversificações nas propriedades.

BASTA, F.; MEIRELLES, D. S.; SAMBIASE, M. F. (2023). Impactos da pandemia de Covid-19 no Agroturismo e Turismo Rural: A Scoping Review. Ateliê Geográfico, Goiânia, v. 17, n. 1, p. 24–49. BERTAUX, D. (2020). As Narrativas de Vida. 4.ª ed. Lisboa: Mundos Sociais. BRASIL (2010). Ministério do Turismo. Turismo rural: orientações básicas. 2. ed – Brasília: Ministério do Turismo, 2010, 68p., 24 cm. FLIGSTEIN, N.; MCADAM, D. (2012). A theory of fields. New York: Oxford University Press.