1 - Marcos Braga de Oliveira UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS) - Escola de Administração - Programa de Pós Graduação em Administração - PPGA/EA
2 - Caroline da Rosa Cassel UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS) - Porto Alegre
3 - Claudia Sirangelo Eccel UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS) - Escola de Administração
4 - Angela Beatriz Busato Scheffer UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS) - Escola de Administração
5 - Camila Vieira Müller Atitus Educação - Programa de Pós-Graduação em Administração da Atitus Educação
Reumo
Carreiras são entendidas a partir das decisões que as pessoas tomam e das relações que existem ao seu redor que lhes dão significado. A sustentabilidade das trajetórias é, contudo, especialmente dificultada ao se considerar a diversidade de pessoas. LGBTQIAPN+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Teransexuais, Trângeneros, Travestis, Queer, Intersexo, Assexual, Pansexual, Não-binários e mais) que enfrentam diariamente discriminações, veladas ou não, relacionadas à sexualidade e identidade gênero.
Este artigo tem como objetivo analisar as trajetórias de pessoas LGTQIAPN+ nas organizações a fim de compreender como se dá a busca pela sustentabilidade das carreiras frente ao contexto estrutural de discriminação por sexualidade e identidade de gênero no Brasil. Argumenta-se que a diversidade (fator individual) choca-se com o preconceito historicamente construído (fator social), formando, assim, um contexto que limita e, em alguns casos, impede a agência do indivíduo.
Para embasar a discussão dos dados adotou-se o conceito de carreira sustentável (De Vos & Van der Heijden, 2015; De Vos et al., 2020; Van der Heijden & De Vos, 2020; Müller & Scheffer, 2022) em razão do construto considerar os múltiplos contextos que atravessam as trajetórias profissionais, revelando, assim, as barreiras percebidas e as estratégias para a permanência nas organizações. Foi também adotada a literatura sobre diversidade, organizações e mercado de trabalho para a compreensão dos fatores estruturais que historicamente atravessam a realidade brasileira.
Este artigo é um estudo qualitativo e exploratório, consistindo no desdobramento de uma pesquisa conduzida anteriormente que realizou entrevistas semi-estruturadas com pessoas autodeclaradas LGBTQIAPN+. Os dados foram analisados por meio da técnica de análise temática proposta por Braun e Clark (2006).
Observou-se que as trajetórias de pessoas LGBTQIAPN+ são atravessadas por influências sociais que formam contextos limitantes que dificultam a construção de carreiras sustentáveis. Os dados evidenciam a indissociabilidade dos indicadores de sustentabilidade que se mostram interdependentes: o comprometimento da saúde ou felicidade, caso não sejam alterados por atores organizacionais relevantes, podem afetar o desempenho no trabalho, impulsionando até a decisão pela saída da empresa. Foi proposto um modelo conceitual para a compreensão das carreiras considerando a diversidade.
Os achados sustentam o argumento de que a diversidade, ao se chocar com as dimensões contextuais, limita a capacidade de agência individual das carreiras e, consequentemente, a sustentabilidade das trajetórias profissionais. Tendo em vista que os estudos sobre carreira sustentável são recentes no Brasil, o presente artigo articulou o conceito com as problemáticas da diversidade LGBTQIAPN+ no mercado de trabalho.
Braun, V., & Clarke, V. (2006). Using thematic analysis in psychology. Qualitative Research in Psychology, 3(2), 77–101. https://doi.org/10.1191/1478088706qp063oa
De Vos, A., Van der Heijden, B. I. J. M. & Akkermans, J. (2020). Sustainable careers: Towards a conceptual model. Journal of Vocational Behavior, 117(March 2020), 103-196. https://doi.org/10.1016/j.jvb.2018.06.011
Mayrhofer, W., Meyer, M., & Steyrer, J. (2007). Contextual issues in the study of careers. In H. Gunz & M. Peiperl (Eds.), Career studies (pp. 215-240). California: Sage Publications.